O mercado de luxo, associado à ostentação e ao consumo desenfreado, está passando por uma transformação significativa trazendo a ascensão do conceito de pós-opulência. Esse novo movimento (re)define o significado de luxo, focando menos na exibição e mais na qualidade intrínseca dos produtos, na experiência oferecida ao cliente e na sustentabilidade.
A pós-opulência surge como uma resposta às práticas do mercado de luxo atual que, transformadas na busca por chegar um maior público, priorizam o exibir marcas ou tendências e deixam de lado outras características importantes para esse tipo de produto. Muitos consumidores de alto padrão buscam por produtos autênticos, com qualidade inerente e com histórias e valores que se alinhem ao seu estilo de vida. Nesse contexto, a marca em si é apenas um complemento, funcionando como um selo de autenticidade e não como o símbolo único ou principal de status.
“A pós-opulência representa uma mudança ou mesmo um resgate de mentalidade e exigências no mercado de luxo. Esse grupo de consumidores deixam claro que não priorizam mostrar o que têm, mas em valorizar a qualidade e a autenticidade, assim desejando produtos com valores com os quais se conecta,” explica Bosco Nunes, especialista em experiência do consumidor e CEO da AISIKI Consultoria.
Essa transformação é um oposto do fenômeno “mediocridade premium”, em que o status de uma marca é utilizado para justificar a venda de produtos de qualidade inferior, no que se refere ao uso de matéria prima e processo de produção. Ou seja, enquanto a pós-opulência busca uma harmonia entre marca e produto, priorizando o luxo discreto e a qualidade real, a mediocridade premium explora a reputação de uma marca para comercializar produtos com baixo valor agregado.
O especialista aborda a importância de as marcas saberem quando aplicar cada estratégia: “Empresas que desejam construir relacionamentos duradouros com seus clientes e focam em mercados mais exigentes devem apostar na pós-opulência, enquanto a mediocridade premium pode ser uma estratégia de curto ou médio prazo para lucratividade em mercados menos maduros.”
Algumas marcas adotam ambas as estratégias, dependendo do contexto e do público-alvo. Exemplos como Tommy Hilfiger e Fiat mostram que, em determinados mercados geográficos ou culturais, elas oferecem produtos específicos com menor qualidade para atender consumidores menos exigentes.
Por fim, Bosco destaca que, para o sucesso a longo prazo, a reputação da empresa, de seus processos e produtos importa tanto ou mais que a marca, pois é isso que deixa a marca forte. “Construir uma reputação sólida para além da marca, baseada na qualidade dos produtos e no respeito ao consumidor, é essencial para o sucesso e a lucratividade de uma empresa no mercado de luxo no longo prazo.”