Mudar de profissão na fase adulta, não é nada fácil. O recomeço exige uma imersão em algo novo, outras tomadas de decisões e até investimento financeiro. Após 13 anos cuidando das pessoas na rede privada e pública, a enfermeira Inaê Evangelista decidiu empreender no ramo automotivo e passou a “cuidar” dos carros para que a vida útil deles fosse prolongada. Localizada na Cidade dos Funcionários, a GoLube já é parada obrigatória para muitas mulheres – e homens também – que buscam um serviço diferenciado de troca de óleo, fluidos e filtros. Inaê faz parte de um universo de 10,3 milhões de mulheres empreendedoras brasileiras (34,4% do total de empreendedores), cujo percentual segue em crescimento, segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Os motivos que levam mulheres empreenderem são vários e esta garra e força de vontade não poderia passar em branco. Tanto é que, além do Dia do Empreendedorismo Feminino, celebrado desde 2014 no dia 19 de novembro em mais de 150 países, numa iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), há também a Semana Nacional do Empreendedorismo Feminino, instituída pela Lei nº 14.667/2023. A participação das mulheres nos negócios está dentro do 5º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, visando a promoção da igualdade de gênero e empoderamento de todas as mulheres e meninas no mundo. Divulgada neste ano, a Pesquisa Global de Empreendedorismo GoDaddy apontou que 50% das mulheres dona de negócios fazem parte dos Millennials (com idades entre 25 e 39 anos), superando a Geração X (30%), a Geração Z (14%) e os Baby Boomers (7%).
Ter mais tempo para as duas filhas fez Inaê começar a repensar sua vida profissional, embora estivesse realizada como enfermeira. Da graduação na Universidade Federal do Ceará (UFC) ao mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza (Unifor), ela levou para o seu negócio os cuidados e dosagens certas no seu novo paciente, o carro. Casada com um especialista automotivo, hoje com mais de duas décadas de experiência, a decisão de empreender começou a amadurecer em 2019. Entre troca de ideias, pesquisas sobre manutenção automática e investimentos, Inaê e Leonardo Mendonça concluíram que ele daria continuidade na parte mecânica e desafogaria a parte da troca de óleo, fluidos e filtros em um novo espaço sob o comando dela. São dois serviços que se complementam e acabam proporcionando agilidade para o cliente.
Ainda no ano de 2019, as tarefas seguintes foram encontrar um ponto comercial próximo da oficina mecânica LS Centro Automotivo e também da residência, na Cidade dos Funcionários; contratar um projeto arquitetônico; selecionar e treinar colaboradores; executar e acompanhar a obra; idealizar o nome da empresa; patentear e comprar uma lista de produtos para começar a atender a clientela. Com todas as etapas vencidas, a inauguração da GoLube aconteceu em fevereiro de 2020. “Como o início de qualquer empreendimento não costuma ser fácil, nós ainda tivemos que enfrentar outro desafio: a pandemia da Covid-19, iniciada no Ceará um mês após a nossa inauguração.”
Com mais um desafio à vista, Inaê conta que precisou novamente se reinventar e dedicou o seu tempo para aprender ainda mais sobre o ramo automotivo. “Fui aprendendo as referências de filtros e suas aplicações; quais filtros que têm mais giro para serem comprados; e depois passei a focar nas marcas de óleo; suas viscosidades e aplicações; quais os lubrificantes originais de cada montadora e a similaridade com outros produtos, etc.”. Com o retorno das atividades e o decreto do fim da pandemia, a GoLube passou a ser administrada totalmente por ela, tendo o marido como apoio e suporte técnico devido sua vasta experiência no ramo.
“É um pouco desafiador, tanto na questão de empreender como ser mulher no segmento automotivo. No entanto, a busca por conhecimento e a quebra de paradigmas faz com que, aos poucos, essa realidade seja modificada”
Inaê Evangelista
Mulheres que apoiam outras mulheres fazem toda a diferença e crescem juntas. Elas são detalhistas, observadoras e cautelosas. A GoLube tem esse cuidado nas contratações, tanto que as mulheres ocupam diversas funções: supervisora técnica, técnica de lubrificação, estoquista, consultora, recepcionista, auxiliar administrativo e serviços gerais. Algumas dessas funções, inclusive, geralmente são ocupadas pelos homens. “Nós tivemos experiências exitosas com mulheres nesses cargos”, comenta Inaê. A sua rotina começa pelo estoque (coração da oficina, pois não pode faltar nada para atender o cliente); depois circula pelos demais setores, sempre conversando com cada colaborador; observa atentamente o funcionamento, a limpeza e a organização; e só então toma frente da parte administrativa e financeira. Quando o movimento está intenso, Inaê também vai para a “linha de frente”. “Faço questão de sempre ter contato com os clientes, pois considero que eles são o “termômetro” de todo e qualquer negócio.”
Com alguns anos empreendendo e aprendendo sempre, a enfermeira que agora cuida do seu próprio negócio não acredita que falta coragem para outras mulheres alçarem os seus próprios voos “Eu imagino que falta mais oportunidade e condições de conciliar a jornada de trabalho com a jornada familiar, diferente dos homens empreendedores que costumam ficar mais focados nos seus negócios”. A sua dica para quem deseja empreender é primeiramente descobrir a afinidade em qual área; pesquisar o mercado; fazer um planejamento; sonhar e imaginar como será o seu negócio; e só então executá-lo com qualidade e honestidade sempre”. Encarar um novo negócio requer, também, aprender novas habilidades e conhecer pessoas com o mesmo propósito de vida.
Serviço:
– GoLube
Endereço: Avenida José Leon, 1260, Cidade dos Funcionários, Fortaleza/CE
Funcionamento: segunda à sexta-feira, das 7:30 às 17 horas; aos sábados, das 7 às 13 horas
Informações: (85) 3085-4585
Instagram: @golube.fortaleza