As mostras “Cansanção em Flor”, “Trava Peste: linda quanto sol” e “Escuta Sensível das Plantas” são fruto de projetos selecionados a partir da convocatória Cena Ocupa.

    Após breve pausa para desmontagem da exposição “Terra de Gigantes”, o Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE) reabre ao público neste sábado (9), com três exposições oriundas da Cena Ocupa, convocatória de ocupação dos espaços do Dragão do Mar, neste caso na categoria Artes Visuais. A partir das 13h, o público poderá conferir “Cansanção em Flor”, uma coletiva das artistas Dinha Fonsêca, Andréa Sobolive, Williana Silva, Maria Macêdo e Eliana Amorim, as duas últimas também curadoras; “Escuta Sensível das Plantas”, de Lyz Vedra, e “Trava da Peste: linda quanto sol”, de Isadora Ravena, as duas últimas individuais com curadoria de Lucas Dilacerda. Às 16h, uma fala das artistas e dos curadores marcará a vernissagem, às 16h.

     Segundo a gestora do MAC-CE, Cecília Bedê, as mostras são exposições de artistas cearenses que deslocam sertões, chapadas, florestas e urbanidades, lugares de nascimento, passagens e moradas para investigar a natureza dos corpos, das plantas, da terra, do céu. “As exposições abrem importantes espaços de diálogos no museu e nos convidam a apropriações e fabulações de nós, de nossos lugares, das subjetividades e do que nos rodeia em existência. Ocupar o museu é também incorporar sua desconstrução/construção e invocar novas essências, reposicionar o pensamento em arte, sobre o mundo”, destaca a gestora.

     Passada a abertura, as visitações podem ser feitas de quarta a sexta, das 9h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h, sempre com último acesso até as 17h30. As mostras ficarão em cartaz até 28 de julho de 2024.

Sobre as exposições

Trava Peste: linda quanto sol
De Isadora Ravena, com curadoria de Lucas Dilacerda

     Na exposição “Trava da peste: linda quanto sol”, com curadoria de Lucas Dilacerda, a artista Isadora Ravena discute a mutação da espécie humana e, por meio de imagens e instalações, aborda temas como mudanças climáticas, calor, espiritualidade e corpo. Entre as questões centrais da mostra, propõe a superação do que se entende por transição de gênero (deixar de ser homem para tornar-se mulher ou vice-versa) e transmutação do corpo, para além da categoria de gênero. As obras instigam à ampliação desta e de outras visões limitadas, a partir de um novo paradigma ecológico que encara a transição como mutação da espécie. “Em uma época afetada pelas mudanças climáticas, crises ambientais e aquecimento global, a produção aponta que corpos trans já estão em mutação rumo a outras formas de vida que se fazem em alianças elementares com a matéria, a paisagem, os astros e o sol”, afirma o curador.

     Além disso, a exposição apresenta uma instalação inédita em homenagem aos 75 anos de nascimento da artista transsexual Márcia Mendonça, que nasceu em 1949 na cidade de Limoeiro do Norte, sertão do Ceará, e nos deixou uma vasta produção artística que transita entre o sagrado e o profano, entre a memória e o esquecimento, sendo considerada a 5ª maior pintora de arte sacra do mundo.

     “Trava da peste: linda quanto sol” possui um projeto de acessibilidade que contempla ações como tradução em Braille, interpretação em Libras, legendagem para surdos e ensurdecidos, fonte ampliada, alto contraste, obras táteis e audiodescrição em todas as obras. O projeto foi realizado por especialistas da área – tais como linguistas, fonoaudiólogos, roteiristas, designers e demais especialistas em acessibilidade -, além da consultoria de usuários e pessoas com deficiência. O espaço do museu dispõe de arquitetura acessível e cadeira de rodas na recepção.

Cansanção em Flor
De Dinha Fonsêca, Andréa Sobolive, Williana Silva, Maria Macêdo e Eliana Amorim, com curadoria de Maria Macêdo e Eliana Amorim

     Com trabalhos nas linguagens da videoperformance, fotografia, gravura, instalação, pintura, impressão e ilustração botânica, a exposição coletiva é integrada por cinco mulheres artistas da região do Cariri cearense: Dinha Fonsêca, Andréa Sobolive, Williana Silva, Maria Macêdo e Eliana Amorim. Fazendo uma referência direta à biodiversidade, a chapada, as plantas como modelo de existência possível, um grande ecossistema onde as mais diferentes espécies convivem e confluem, o coletivo convida os espectadores a, inspirados nos territórios da Chapada do Araripe para pensar possibilidades de elaboração de vidas e de práticas artísticas, guiadas pelos saberes de base originária e negra que perpassam as artes, a cultura, os saberes e práticas populares da região.

     Cultivando um processo de simbiose entre a ciência da mata, as práticas de cura, o manejo da terra e o cuidado com as novas sementes que nos vingarão, as obras perpassam questões como identidades, territórios, migração, naturezas e afetividades, dentre outros

      Nome dado a várias espécies de urtigas que têm propriedades curativas e nutricionais, “Cansanção” faz referência às práticas de fertilização das imagens atreladas à agricultura da terra como analogias para a criação artística, para o reflorestamento dos imaginários acerca dos diversos campos de produção de imagens e saberes.

Escuta Sensível das Plantas
De Lyz Vedra, com curadoria de Lucas Dilacerda

     Estimulada pela necessidade urgente de uma revolução dos afetos para a redução dos danos gerados pela interferência “(des)humana” à biosfera, a artista-pesquisadora travesti negra maracanauense Lyz Vedra nos propõe uma abertura à experiência corpórea em sintonia com as plantas, para, a partir dela, buscar novos saberes e modos de nos relacionarmos. A exposição é a culminância da pesquisa da artista em dança e ecoperformance. Com obras e instalações que articulam entrelaces poéticos, políticos e afetivos entre a corporeidade travesti da artista e a corporeidade vegetal das plantas, o ambiente imersivo propõe um resgate dos saberes ancestrais do planeta por meio de uma sensibilidade crítica e propõe diálogos por meio do atravessamento entre corpo, imagem, som, dança e ancestralidade a partir do paradigma de uma sobrevivência ecotranstravesti.

Sobre a Cena Ocupa 

Com investimento aproximado de R$ 500.000, Cena Ocupa é uma convocatória de ocupação dos espaços do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A iniciativa integra o conjunto de esforços para a continuidade de programas e realização de temporadas no Dragão, bem como para a difusão de projetos artísticos cearenses a partir de um instrumento democrático de seleção.

Sobre o Museu

     O Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE) é um museu do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, complexo cultural que integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar.

Serviço: Abertura das exposições Cansanção em Flor”, “Trava Peste: linda quanto sol” e “Escuta Sensível das Plantas”
Data: 9 de março de 2024 (sábado)
Horário: Museu aberto a partir das 13h, com fala de abertura às 16h
Local: Museu de Arte Contemporânea do Ceará, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito e livre.
Após a abertura, a exposição pode ser visitada