Com concepção e curadoria de Daniel Lima, “Terra de Gigantes” passeia pela fronteira entre vídeo-instalação, teatro e cinema e convida o público a experimentar diferentes poéticas através de perspectivas negras e indígenas no Brasil.
 

     Museu da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) que integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), o Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE) recebe, neste sábado (23/09), a exposição imersiva e interativa “Terra de Gigantes”. Com concepção e curadoria de Daniel Lima, a Mostra traz performances, textos, músicas, entrevistas e animações, transitando entre criações audiovisuais, teatro e cinema para proporcionar ao público uma imersão em poéticas a partir de perspectivas negras e indígenas no Brasil. A exposição estará disponível a visitação a partir das 13h, com acesso gratuito e livre, mas a abertura oficial, com fala do curador Daniel Lima, acontecerá às 16h. 

     Ao todo, 11 cenas audiovisuais compõem a ambiência fantástica e provocativa sobre os significados de ser negro e ser indígena no mundo contemporâneo, abrindo espaço para a proposição de novos referenciais de futuro-nação. Sons, luzes e imagens conduzem o público a um mergulho nas forças poéticas e mitológicas da cultura afroameríndia. Após a abertura, as visitações podem ser feitas de quarta a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30).

     A produção, que chega a Fortaleza depois de estrear no Sesc Guarulhos, é fruto do fechamento da pesquisa de doutorado de Daniel, e é protagonizada por um destacado time de artistas negros e indígenas. Imagens de Katú Mirim abrem o percurso da exposição, seguidas de 10 pinturas animadas com cantos indígenas de Daiara Tukano, coreografia com mãos a partir de texto de Jota Mombaça, performance de códigos e gestos do Coletivo Legítima Defesa, bem como outras instalações que permitem interação. Somam-se à imersão trabalhos de Davi Kopenawa Yanomami, Naruna Costa, Marcelino Freire, Naná Vasconcelos, Jonathan Neguebites, Juçara Marçal e Denilson Baniwa. 

     Originada nas memórias do curador sobre os parques temáticos (trem fantasma, labirinto de espelhos, montanhas e rodas), a mostra convida à exploração do desconhecido, dispondo de modernos recursos tecnológicos, como vídeo-instalação, mapping, interatividade de sensores e projeções holográficas. “É um passeio no escuro em que o espectador ativa, através de sensores óticos, diferentes cenas”, afirma o curador. Um dos trabalhos que acabam despertando muita atenção dos visitantes, em virtude da experiência gerada com a ativação da obra pelo próprio espectador, é a cobra. “O entretenimento em sua forma viva e crítica garante a interação do público”, comenta Daniel.


Visita guiada

     No domingo (24), a partir das 14h, o curador Daniel Lima participa de um encontro do Ciclo de Conversas, quando mediará uma visita guiada pela Mostra, ocasião em que abordará as questões que o levaram à realização dessa exposição imersiva, resultado de sua pesquisa de doutorado. A visita mediada também integra a 17ª Primavera dos Museus. O acesso é gratuito e livre. 


Sobre o curador

Nascido em Natal, no ano de 1973, Daniel Lima vive e trabalha em São Paulo. É Bacharel em Artes Plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Desde 2001, cria intervenções e interferências no espaço urbano. Próximo de trabalhos coletivos, desenvolve pesquisas relacionadas à mídia, questões raciais e processos educacionais, membro fundador da “A revolução não será televisionada”, “Política do Impossível” e “Frente 3 de fevereiro”. Dirige a produtora e editora Invisíveis Produções.

Sobre os artistas

Daiara Tukano 

Daiara Hori Figueroa Sampaio – Duhigô, do povo indígena Tukano – Yé’pá Mahsã, clã Eremiri Hãusiro Parameri do Alto Rio Negro na amazônia brasileira, nascida em São Paulo. Artista, ativista, educadora e comunicadora. Graduada em Artes Visuais e Mestre em direitos humanos pela Universidade de Brasília – UnB; pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Foi coordenadora da Rádio Yandê, primeira web-rádio indígena do Brasil – www.radioyande.com de 2015 à 2021. Ganhadora do Prêmio PIPA Online 2021, organizado pelo Instituto PIPA como mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais. Estuda a cultura, história e espiritualidade tradicional de seu povo junto à sua família. Reside em Brasília, DF. 

Davi Kopenawa Yanomami 

Liderança reconhecida internacionalmente em sua luta pela defesa do território. Foi tradutor e chefe de posto da Funai (Fundação Nacional do Índio). Na década de 1970, percorreu a área ianomâmi em função de diversos trabalhos, tomando consciência de sua extensão e de sua unidade cultural. No auge da invasão garimpeira, engajou-se na luta pela demarcação do seu território, junto da CCPY (Comissão pela Criação do Parque Ianomâmi), numa campanha que durou cerca de 14 anos. Por sua atuação, recebeu o prêmio global 500 da ONU e diversas outras homenagens nacionais e internacionais, como o prêmio Itaú Cultural 30 anos, em 2017. É doutor Honoris-Causa pela Unifesp, outorgado em março de 2023. Autor do livro “A Queda do Céu”, é codiretor do documentário experimental “Xapiri”, e assina o roteiro do filme “A última Floresta” em parceria com Luis Bolognesi. 

Denilson Baniwa 

Nasceu em Mariuá, Rio Negro, Amazonas. É artista visual e comunicador que tem, a partir do Movimento Indígena Amazônico e trânsito pelo universo não-indígena, seus processos artísticos e sociais. Às vezes o desafio não é ocupar posições. Por exemplo, quando as que existem não servem, é necessário criar algo novo. Denilson Baniwa é um artista indígena; é indígena e é artista, e seu ser indígena lhe leva a inventar um outro jeito de fazer arte, onde processos de imaginar e fazer são por força intervenções em uma dinâmica histórica (a história da colonização dos territórios indígenas que hoje conhecemos como Brasil) e interpelações a aqueles que o encontram a abraçar suas responsabilidades.  

Jonathan Neguebites  

Cria de Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Neguebites conquistou o Brasil e o mundo com a sua dança. O dançarino e professor ficou conhecido em 2016, quando começou a ganhar suas primeiras Batalhas de Passinho, tendo sido campeão de 4 delas: Batalha da Flupp, Batalha do Batan, Desafio do Passinho e Hip Funk Festival. Foi na época das suas primeiras batalhas que foi convidado a participar de um evento do Heavy Baile e, depois disso, nunca mais saiu: hoje ele é um dos artistas que compõem o coletivo de funk carioca. 

Jota Mombaça 

Artista e escritora indisciplinar cujo trabalho deriva de poesia, teoria crítica e performance. Sua prática está relacionada à crítica anticolonial e à desobediência de gênero. Através da performance, da ficção visionária e de estratégias situacionais de produção de conhecimento, pretende ensaiar o fim do mundo tal como o conhecemos e a figuração do que vem depois de desalojarmos o sujeito colonial-moderno de seu pódio. Já apresentou trabalhos em diversos contextos institucionais, como as 32ª e 34ª Bienal de São Paulo, 10ª Bienal de Berlim, 22ª Bienal de Sydney e 46ª Salão Nacional de Artistas da Colômbia. É autora do livro “Não vão nos matar agora”, publicado em Portugal em 2019 pela EGEAC e no Brasil em 2021 pela Editora Cobogó. 

Juçara Marçal 

Cantora do grupo Metá Metá. Integrou os grupos Vésper Vocal, A Barca e Ilu Obá De Min. Lançou em 2014 o disco solo “Encarnado”. O álbum ganhou o Prêmio APCA – Melhor Álbum de 2014, Prêmio Governador do Estado – Melhor Álbum – Voto do Júri, e Prêmio Multishow de Música Compartilhada, entre outros. Em 2015, lançou “Anganga”, parceria com o músico carioca Cadu Tenório. Com Rodrigo Campos e Gui Amabis, criou o projeto “Sambas do Absurdo”, inspirado no livro de Albert Camus, “O mito de Sísifo”. Realiza, ao lado de Kiko Dinucci e Thais Nicodemo, o show Brigitte Fontaine, em que canta o repertório dessa artista. Em 2019 estreou como atriz na peça “Gota d’água {Preta}”. Em 2021 lança seu segundo disco solo, “Delta Estácio Blues”. 

Katú Mirim 

Mulher lésbica, indígena, rapper, compositora, atriz e criadora de conteúdo, reconhecida por suas letras, que através do rap/rock, reconta a história da colonização pela ótica indígena. Sua arte e conteúdos são sobre as temáticas que atravessam sua vida, identidade, gênero, lesbianidade e maternidade. Sempre fazendo o recorte entre o futuro e a ancestralidade, ela traz uma visão decolonial sobre o futurismo e a tecnologia. O futuro só pode ser ancestral.  

Legítima Defesa 

Grupo de artistas, atores e atrizes, dj’s e músicos, de ação poética, portanto política, que tem como foco a reflexão e representação da negritude, seus desdobramentos sociais históricos e seus reflexos na construção da persona negra no âmbito das linguagens artísticas. Constituindo, desta forma, um diálogo com outras vozes poéticas que tenham a negritude como tema e pesquisa. Formado em 2015, o coletivo Legítima Defesa apresentou a performance poético-política “Em Legítima Defesa” na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo de 2016. Em 2017, estreou o espetáculo “A missão em fragmentos: 12 cenas de descolonização em legítima defesa” na programação da Mostra Internacional de Teatro. Tem em sua bagagem uma série de intervenções urbanas, como “Racismo é Golpe?” e “Um rosto à procura de um nome”. Em 2019 estreou o espetáculo “Black Brecht – E se Brecht fosse negro?” projeto contemplado pelo Prêmio Zé Renato, considerado pelo guia da folha como um dos mais relevantes do ano de 2019. Em 2022 estreou sua mais nova peça “Améfrica: em Três Atos” também contemplado pelo Prêmio Zé Renato.  

Marcelino Freire 

Escritor, nasceu em 1967, em Sertânia, Pernambuco. Viveu no Recife e desde 1991 reside em São Paulo. É autor, entre outros, dos livros “Angu de Sangue” (Ateliê Editorial) e “Contos Negreiros” (Editora Record – Prêmio Jabuti 2006). Em 2004, idealizou e organizou a antologia de microcontos “Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século” (Ateliê). Alguns de seus contos foram adaptados para teatro. Participou de várias antologias no Brasil e no exterior. “Contos Negreiros” foi publicado em 2013 na Argentina, pela Editora Santiago Arcos e com tradução de Lucía Tennina, e no México, pela Librosampleados, com tradução de Armando Escobar. Criou a Balada Literária, evento que acontece em São Paulo desde 2006, com edições em Teresina (desde 2017) e Salvador (desde 2015). No final de 2013, publicou seu primeiro romance, intitulado “Nossos Ossos” (Record – Vencedor do Prêmio Machado de Assis), publicado também na Argentina, pela editora Adriana Hidalgo, na França pela editora Anacaona, e em Portugal pela editora Nova Dheli. Em 2018, lançou pela José Olympio, o livro “Bagageiro”, que reúne o que ele chama de “ensaios de ficção”. Coordena oficinas de criação literária desde o ano de 2003. 

Naná Vasconcelos 

Nasceu no Recife. Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão, embora nos anos 60 tenha se especializado no berimbau. Depois das mais variadas experiências musicais, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar com Milton Nascimento. Em 1970, o saxofonista argentino Gato Barbieri o convidou para juntar-se ao seu grupo. Apresentaram-se em Nova York e Europa, com destaque para o festival de Montreaux, na Suíça, onde o percussionista encantou público e crítica. Ao término da turnê, fixou residência em Paris, França, durante cinco anos, onde gravou o seu primeiro álbum – “Africadeus” (71). No Brasil, Naná gravou o seu segundo disco “Amazonas” (72). Começou, então, uma bem-sucedida parceria com o pianista e compositor Egberto Gismonti, durante oito anos, que resultou em três álbuns – “Dança das Cabeças”, “Sol do Meio-Dia” e “Duas Vozes”. De volta a Nova York, formou o grupo “Codona”, com Don Cherry e Colin Walcott, também gravando e fazendo turnê com a banda do guitarrista Pat Metheny. Trabalhando com artistas das mais variadas tendências, Naná Vasconcelos gravou com B.B. King, com o violinista francês Jean-Luc Ponty e com o grupo de rock americano Talking Heads, liderado por David Byrne. Em 1986, de volta ao Brasil depois de dez anos, fez turnê recebida com entusiasmo pelo público. Nessa altura, Naná já havia trabalhado nas trilhas dos filmes “Procura-se Susan Desesperadamente”, de Susan Seidelman, estrelado por Rosanna Arquette e Madonna, e “Down By Law”, do cultuado diretor Jim Jarmusch, além de “Amazonas”, de Mika Kaurismaki. O trabalho de Naná sempre demonstrou a amplitude do seu talento, e nos anos 80 gravou o disco “Saudades”, concerto de berimbau e orquestra. Depois, vieram os álbuns “Bush Dance” e ‘Rain Dance”, suas experiências com instrumentos eletrônicos. Daí por diante, Naná esteve envolvido mais diretamente com o cenário musical brasileiro ao fazer a direção artística do festival Panorama Percussivo Mundial (Percpan), em Salvador, e do projeto ABC Musical, além de participações especiais em álbuns de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte e Mundo Livre S/A, entre outros. Em meio a inúmeros lançamentos fora do país, Naná Vasconcelos lançou no Brasil o disco “Contando Estórias” (94), depois os CDs “Contaminação” e “Minha Lõa”. No fim de 2005, lançou “Chegada”, pela gravadora Azul Music, e em 2006, o CD mais recente, intitulado “Trilhas”. Com raízes pernambucanas, Naná idealizou o projeto ABC das Artes Flor do Mangue, trabalho com crianças carentes. Uma trajetória de vida que esbanja virtuosismo musical e integridade pessoal em tudo o que faz e toca. Informações mais detalhadas sobre o artista podem ser encontradas no site.  

Naruna Costa, Taboão da Serra, São Paulo, 1983. Atriz, cantora e diretora. Sua atuação se caracteriza pela valorização poética das periferias paulistanas e da presença negra no cenário cultural. Ao longo de uma década e meia, Naruna se firma no mundo artístico brasileiro graças ao impacto político e estético de seus trabalhos em teatro, televisão, cinema e música. Suas escolhas de personagens ilustram a resistência à opressão social e aos abismos econômicos do país. Formada na EAD – Escola de Arte Dramática ECA/USP/2009, Naruna é Co-fundadora do Espaço Clariô Taboão da Serra e do premiado Grupo Clariô de Teatro, referência da militância negra de cultura periférica de SP, também lidera o grupo de pesquisa de música urbana de raiz popular: “Clarianas”, com dois discos autorais gravados: “Giradêra” em 2012 e “Quebra Quebranto” em 2019. No audiovisual, Naruna atualmente protagoniza a série “Irmandade” da plataforma de streaming Netflix, onde vive a intrigante advogada Cristina. Em 2018, a atriz e diretora foi a primeira negra a receber o “Prêmio APCA”, na categoria Melhor Direção, pela montagem do espetáculo “Buraquinhos – ou – O Vento é inimigo do Picuma” de Jonny Sallaberg, categoria pela qual também foi premiada pelo Prêmio Aplauso Brasil/ Júri Popular 2018. Naruna também foi premiada na categoria Melhor Atriz, em 2020 por sua atuação no filme “Toro” de Eduardo Felistoque no VI FBCI Festival Brasileiro de Cinema Internacional. 

 

Serviço: Abertura da exposição “Terra de Gigantes”, com curadoria de Daniel Lima
Data: 23 de setembro de 2023 (sábado)
Horário: 16h
Após a abertura, as visitações podem ser feitas de quarta a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30).
[17ª Primavera dos Museus / Ciclo de Conversas] Visita guiada à exposição com o curador
Data: 24 de setembro de 2023 (domingo)
Horário: 14h
Local: Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito e livre.
Mais informações: (85) 3488.8624 ou http://www.dragaodomar.org.