Com curadoria de Marília Oliveira e Rafael Escócio, acervo fruto de pesquisa do antropólogo Jean dos Anjos, ao longo de 20 anos, convida o público a fazer um passeio pelo universo das religiões de matrizes afroindígenas. 
 
 

     Museu da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) que integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), o Museu da Cultura Cearense (MCC) abre, neste sábado (30/09), às 18h30, nas salas 1 e 2, a exposição gratuita “Festa, Baia, Gira, Cura”. Com curadoria de Marília Oliveira e Rafael Escócio, a mostra reúne um extenso acervo de fotos, documentos, imagens, esculturas e intervenções artísticas em áreas externas ao Museu, fruto de ampla pesquisa e produção artística do antropólogo, fotógrafo e macumbeiro Jean dos Anjos, ao longo de mais de 20 anos.
A exposição, que inaugura os festejos de 40 anos do terreiro de Umbanda e Candomblé Cabana do Preto Velho da Mata Escura | Ilé Àse Ojú Oya, localizado no bairro Bom Jardim, convida o público a conhecer mais sobre o universo das religiões de matriz afroindígenas. 

     Segundo Valéria Laena, assessora dos Museus do Dragão do Mar, a exposição é uma oportunidade ímpar para romper com estigmas associados às religiões de matrizes afroindígenas, bem como para sensibilizar e conscientizar o público para a importância do combate às intolerâncias associadas a esses preconceitos. “Enquanto instituição museológica, é fundamental termos a oportunidade de aprender, trabalhar e divulgar a temática que o Jean dos Anjos nos traz, especialmente dialogando com um terreiro memorável como o Terreiro de Umbanda e Candomblé Cabana do Preto Velho da Mata Escura / Ilé Àse Ojú Oya. O artista nos brinda com seu talento e estudo num dos momentos mais oportunos para discutirmos racismo religioso como crime previsto em lei. É uma exposição que traz a riqueza cultural das práticas, oferendas, danças e dos santos e cantos, possível de alargar nossas percepções e valores”, afirma a gestora.

     Para a curadora Marília Oliveira, a mostra também acaba desempenhando um papel na necessária reparação histórica: “Ressalto a importância dessa exposição acontecendo no Museu da Cultura Cearense e pelos espaços do Dragão do Mar, considerando que as populações afrodescendentes construíram a história do nosso estado e estiveram ao longo dessa história apagadas pelo ‘mito de Iracema’, que celebra o encontro entre as populações indígenas e os europeus, mas deixa a população negra de lado, então, essa exposição é também um jeito de retomar e celebrar a contribuição para a construção da história do nosso estado, o que detém a maior quantidade de terreiros de umbanda em todo o país.” 

     “Festa, Baia, Gira, Cura” nasce a partir da historicização do terreiro homenageado. O título surge a partir de elementos primordiais nas celebrações afroameríndias e das vivências do pesquisador. Compreendendo “Festa” como condição de sociabilidade humana, são apresentadas fotografias e materialidades das festas e rituais do terreiro, com enfoque especial para a festa da Rainha Pombagira Sete Encruzilhadas e Exú, a qual ele acompanha desde 2013. Dividida em quatro núcleos, a exposição mostra a riqueza da cultura dos terreiros, bem como a resistência dos povos de terreiros na busca pela preservação da memória da umbanda e do candomblé, e a luta dos seus praticantes pelo fim do racismo religioso. 

     Após a abertura, visitações à mostra podem ser feitas até 28 de janeiro de 2024, de quarta a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30).

Sobre o artista

     Jean dos Anjos, nascido e criado em Fortaleza, Ceará, é antropólogo, fotógrafo e macumbeiro. Doutorando em Sociologia pelo PPGSociologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Realizou exposições individuais e coletivas no Ceará, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina entre outros estados brasileiros. Premiado no Salão de Abril, em 2016 e 2023. Selecionado para o Prêmio Pierre Verger da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) da qual é membro. Participou da Temporada Formativa do Laboratório de Artes Visuais da Escola Porto Iracema das Artes, em 2019. É pesquisador do Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI/UFC).

Sobre os curadores

     Marília Oliveira é cearense de São Benedito, interessada em autoficção, memória, narrativa, imagem e palavra. Doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente pesquisa imagem e imaginação, fabulação crítica, o visível e o invisível na imagem fotográfica. É integrante do Descoletivo, coletivo de fotografia, e do FrestaLab,  selo independente de edição de fotolivros e fotozines. Tem quatro fotolivros publicados, três deles em parceria com Régis Amora, pelo Descoletivo. Participou de exposições coletivas e mostras no Brasil, na França, em Portugal e na Espanha. Em 2022, participou da residência Mira Latina LAB, da residência com Eustáquio Neves em seu ateliê AEN, do Programa de Residências e Intercâmbios do Porto Dragão e do Ateliê de Criação do MIS-CE, além de integrar a coletiva Imaginários Queer, no Museu de Bellas Artes de Xátiva, na Espanha, e de lançar a Revista NERVA, da qual foi curadora e idealizadora. Em 2023, realizou sua terceira exposição individual, “Elas chegam pelo mar”, parte de sua pesquisa de doutorado, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE), projeto selecionado na Temporada de Artes Visuais, ação da Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece) da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM).

     Rafael Escócio é pesquisador e curador. Licenciado em Artes Visuais/IFCE. Atuou como Coordenador do Núcleo Educativo do Museu de Arte Contemporânea do Ceará / MAC DRAGÃO (2021/2023). Realizou a co-curadoria das exposições “Das águas que tudo arrastam…” (2021), Terraplanagem (2018), e Bem Me Quer Mal Me Quer – Cartografias de Si (2018). Foi contemplado nos editais Arte Caucaia – Edital de Premiação de Artistas e Grupos Culturais (2021) e Edital das Artes de Fortaleza/SECULTFOR (2016). Atualmente vive e trabalha em Fortaleza/CE.

Serviço: Abertura da Exposição “Festa, Baia, Gira, Cura”, com trabalhos de Jean dos Anjos e curadoria de Marília Oliveira e Rafael Escócio
Data: 30 de setembro de 2023 (sábado)
Horário: 18h30
Local: Museu da Cultura Cearense (MCC), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Av. Pres. Castelo Branco, S/N, em frente à Praça Cristo Redentor)
Após a abertura, as visitações podem ser feitas de quarta a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30), até 28 de janeiro de 2024.
Acesso gratuito e livre.

Mais informações: (85) 3488.8624 ou http://www.dragaodomar.org.br