1) O QUE É O BARRACONS?
Barracons é o nome abreviado do No barraco da Constância tem!: um coletivo artístico que, em 2024, está completando 12 anos de atividades ininterruptas, voltadas à criação de espetáculos, performances, vídeos, filmes, ações, instalações, intervenções urbanas, eventos, oficinas e residências de criação.
2) COMO UM ÚNICO COLETIVO CONSEGUE CRIAR TRABALHOS EM FORMATOS TÃO DISTINTOS?
Isso só é possível porque a pesquisa do grupo tem, cada vez mais, se voltado à investigar maneiras de proporcionar criações que, de fato, sejam coletivas. Isso quer dizer que: a pesquisa do grupo é em torno de como uma direção pode se dar de maneira compartilhada, descentralizada da ideia de um só autor.
Essa característica pode ser entendida assim, enquanto pesquisa, porque essa escolha de produzir uma poética coletiva altera não apenas os modos de tomar acordos na composição de cada obra, mas revela o desafio de encarar a diferença e a multiplicidade das escolhas e dos discursos. E é isso também que torna possível que se cruzem, ainda, as diferentes linguagens de onde cada integrante do grupo é mais aproximado.
Essa multiplicidade, portanto, é reflexo do modo transversal como o grupo trabalha; que tece esse cruzamento entre os diferentes jeitos, conhecimentos, ferramentas, intenções e desejos dos seus participantes.
Vale ressaltar que esse fazer coletivo não se dá apenas no trabalho artístico, mas também no trabalho burocrático e de gerenciamento do grupo. Nós também exercemos funções de produção, de financeiro, de administração também nesse lugar partilhado.
3) ESSE É O PRINCIPAL MOTIVO DE COMEMORAR ESSES 12 ANOS?
Sim. Esse saber, adquirido pelo jeito que a gente resolveu trabalhar, é realmente fruto de uma invenção. Não é inédito, mas ao mesmo tempo é singular. E esse jeito foi também a maneira que fez a gente sobreviver enquanto coletivo até aqui. Porque esse modo de fazer coletivo não é uma questão resolvida. É o tempo todo uma descoberta. É provisório, é de cada momento, de cada circunstância, de cada contexto. Não é uma fórmula. Exige uma atenção muito afiada, um jogo de cintura muito rápido e uma política muito honesta.
Foi isso que fez a gente querer fazer essa Mostra Repertório, além de outras atividades comemorativas que a gente está fazendo desde o ano passado, como a criação do nosso site; a inauguração da nossa sede, chamada Oriente; e a realização de uma formação gratuita para coletivos com menos de 5 anos, voltada à criação colaborativa e ao cultivo de metodologias práticas de criação coletiva, chamada Grafo: Espaço Formativo de Criação Coletiva, onde a gente trabalhou com o Coletivo Farol Novo e o Grupo Lindo.
4) ESSA MOSTRA REPERTÓRIO VAI ACONTECER COMO UMA OCUPAÇÃO NO THEATRO JOSÉ DE ALENCAR… POR QUE A ESCOLHA DESSE EQUIPAMENTO? E QUAIS SÃO OS TRABALHOS QUE COMPÕEM A MOSTRA?
O Theatro José de Alencar é um complexo cultural, que abriga diversos espaços dentro dele e possibilita diferentes formatos de apresentações, além de ser também um lugar que abarca diversas linguagens. Isso dialoga bastante com o trabalho que o Barracons faz. Para isso, a gente quer ocupar diferentes espaços do Theatro: a Calçada, o Jardim, o Morro do Ouro, o Foyer e o Palco Principal.
O primeiro dia da Mostra será na calçada, com a estreia do trabalho A brava jornada, que a gente está realizando em parceria com o Grupo Lindo – que a gente conheceu durante o Grafo: Espaço Formativo de Criação Coletiva. É a nossa primeira experiência dirigindo outro grupo. Somos quatro integrantes do Barracons dirigindo 5 atores do Grupo Lindo, que também conta com outros 2 participantes que estão fazendo a assistência de direção do trabalho. Esse espetáculo é sobre os quatro pescadores – Jerônimo, Tatá, Mané Preto e Jacaré – que, em 1941, foram de jangada até o Rio de Janeiro reclamar com Getúlio Vargas os direitos trabalhistas da sua classe; e que ficaram famosos ao ponto de, em 1942, terem a sua saga retratada em um filme do cineasta estadunidense Orson Welles, protagonizado por eles próprios – onde, durante as gravações, levou Jacaré, o líder da empreitada, à morte.
No segundo dia, no Jardim, será apresentado Delirantes e Malsãs, uma obra de 2020 criada no contexto da pandemia, acerca da infalibilidade da morte. A pesquisa que deu origem à peça foi disparada pela ideia de peste atrelada à aglomeração de pessoas nas praças e a importância de estar junto, em multidão. Porém, mediante a epidemia da Covid-19 em 2020, em que uma peste de fato foi propagada por meio do contato aproximado entre pessoas, a pesquisa mudou drasticamente de rumo, incorporando noções oriundas do mistério e compreendendo o vazio como um catalizador do segredo, do enigma, do abismo do tempo. O universo criativo e simbólico do trabalho é referenciado pelo gênero medieval da Danças Macabras e suas alegorias, elementos comuns às manifestações culturais populares tradicionais.
No terceiro dia, no Morro do Ouro, teremos Mystura Tropykal: um espetáculo de humor, de amor, de dança, de comédia, de festa e de seresta. Estreado em 2019, sua pesquisa inicial foi disparada por questões acerca das normatividades de gênero e de sexualidade, propondo encenar a existência de um lugar onde todos os corpos possam ser celebrados em suas singularidades e diferenças, em um grande festejo ao diverso. O espetáculo mistura atuação, improvisação, canto, dublagem, dança, texto falado, piada contada, montação drag e caracterização; com referências a festas de terreiro, karaokê, brincadeira de roda, quadrilha junina, Maracatu cearense, Reisado e outras manifestações populares.
No quarto dia, a obra A, de 2023, ocupa a Sala Izaíra Silvino (Foyer). Este é um trabalho que se desdobrou de Delirantes e Malsãs, criado especialmente para a Mostra de Performance Verbo. O trabalho circulou em São Luís (MA) e em São Paulo (SP). No Ceará, sua estreia ocorreu na Pinacoteca, também na programação da Verbo. Neste trabalho, se celebra o mistério, a substância etérea, a vacuidade de todos os fenômenos, o princípio da miríade das existências.
No quinto e último dia, no Palco Principal, será apresentado Rara, de 2017. Trabalho mais antigo do coletivo que atualmente ainda é apresentado. O espetáculo propõe imergir nas relações presentes no lugar fronteiriço entre o saber e o não-sabido, o identificável e o não-identificado. Através das atividades comuns à espécie humana de nomear, organizar, categorizar, listar etc., o espetáculo busca rearranjar os sentidos do identificável, provocando outros modos de recepcionar o já conhecido. Na busca por diminuir as distâncias e realizar outros agrupamentos, ampliando as possibilidades de diverso e fazendo surgir outras histórias, nos perguntamos o que o corpo pode dizer de si mesmo e por si próprio ao se descobrir não-nomeado.
5) O QUE MAIS PODEMOS ESPERAR DESSAS COMEMORAÇÕES DE 12 ANOS?
Essa ano ainda estrearemos um novo trabalho cênico, chamado Matéria Suspensa. Também iremos lançar, no final do primeiro semestre, duas publicações: Borogodó e Bananada, que funcionam de maneira independente e também de maneira interativa uma com a outra; como um díptico. São livros com roteiros inéditos e procedimentos utilizados em criações nossas. Também realizaremos, na nossa sede Oriente, quatro conversações sobre criação coletiva. Essa programação será guiada pela nossa produção audiovisual. Serão exibidos os trabalhos: Elsa.exe (2018), Lesa.exe (2020), Sale.exe (2022), O desaparecimento do jangadeiro Jacaré em Alcácer-Quibir (2021), Transmissão ao vivomorto (2021), Iracema terceirizada (2021), Rebuliço savoir faire (2022) e outra obra inédita ainda sem título. Realizaremos também, mais ao final do ano, um outro trabalho inédito em torno da saga dos jangadeiros, chamado Raid, com previsão de estreia no Rio de Janeiro. Por fim, junto ao Coletivo Farol Novo, estamos elaborando um processo formativo gratuito voltado à interpretação em artes cênicas.
6) SERVIÇO:
– Dia 20, às 17h (quarta) – Estreia do Espetáculo “A brava jornada” – Calçada Theatro José de Alencar. Apresentação gratuita e com indicação etária LIVRE.
– Dia 21, às 17h (quinta) – Espetáculo “Delirantes e Malsãs” – Jardim Theatro José de Alencar. Apresentação gratuita e com indicação etária LIVRE.
– Dia 22, às 19h (Sexta) – Espetáculo “Mystura Tropykal” – Morro do Ouro do Theatro José de Alencar (Anexo CENA). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), com lista transfree e com indicação etária LIVRE.
– Dia 23, às 17h (Sábado) – Espetáculo “A” – Sala Izaíra Silvino (Foyer) do Theatro José de Alencar. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), com lista transfree e com indicação etária LIVRE.
– Dia 24, de 19h (Domingo) – Espetáculo “Rara” – Palco Principal Theatro José de Alencar. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), com lista transfree e com indicação etária LIVRE.