Apesar de evitável, o câncer de pênis ainda desafia o Brasil com altos índices de internações e amputações.

 

O mês de fevereiro é o período de conscientização contra o câncer de pênis. Apesar de ser considerado um tumor incomum, visto que representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem os homens no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), nos últimos dez anos, a doença causou 22,2 mil internações no país.

 

Durante o mesmo período, o Brasil registrou 585 amputações de pênis por ano. Normalmente, o câncer na genitália é acompanhado de sintomas de feridas em região de genitália, podendo estar associadas ou não a quadros infecciosos com secreções e mau cheiro. Emanuel Veras, médico urologista, diz que se alguém perceber o indício de algum desses sintomas, deve procurar acompanhamento médico o mais rápido possível.

 

“Quando diagnosticado rapidamente, mais eficaz será o tratamento, fazendo com que ocorram menos complicações no órgão reprodutor. Uma vez que o tumor é encontrado em uma fase inicial, as chances de tratamento e cura são maiores”, afirma Emanuel Veras.

 

O câncer de pênis está associado, na maioria das vezes, a maus hábitos de higiene e más condições socioeconômicas. Não é à toa que a maioria das ocorrências de câncer de pênis no país acontecem em lugares das regiões Norte e Nordeste, onde há piores condições socioeconômicas e onde o acesso a acompanhamento médico especializado é escasso.

 

“Apesar de ser uma doença que também pode ser evitada com a vacinação contra o HPV, o maior desafio no Brasil contra o câncer de pênis é a falta de acompanhamento médico que se dá pela resistência dos pacientes a procurarem o atendimento médico, por vergonha, assim como pela dificuldade de acesso a médicos especialistas. Isso faz com que muitas pessoas tenham o diagnóstico da doença já em estágios avançados”, esclarece Emanuel.

 

O tratamento contra o câncer de pênis acontece normalmente com a retirada do tumor através de cirurgia, que pode ser a retirada da lesão tumoral e por vezes a amputação da genitália. Em alguns desses pacientes será necessária também a retirada de linfonodos da região inguinal, cirurgia essa chamada de linfadenectomia inguinal. Recentemente, em 2024, no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), foi iniciado um projeto de pesquisa, com o apoio do Ministério da Saúde através do PRONON (Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica), no qual está sendo realizada a cirurgia de Linfadenectomia Inguinal de forma robótica.

 

“Esse projeto de pesquisa tem comparado a linfadenectomia inguinal aberta (cirurgia convencional) com a linfadenectomia inguinal robótica de forma randomizada, projeto de pesquisa esse que é inédito na literatura mundial e tem como objetivo avaliar a possibilidade de diminuição de complicações com essa cirurgia. Além disso, mesmo que o projeto seja dedicado ao câncer de pênis, ele possibilitou a criação do programa de cirurgia robótica do ICC, o que tem beneficiado vários outros pacientes atendidos no ICC”, ressalta Emanuel Veras, Coordenador da Pesquisa e Coordenador Médico do Programa de Cirurgia Robótica do ICC.

 

A conscientização sobre o câncer de pênis é essencial para reduzir os índices alarmantes da doença, especialmente nas regiões mais vulneráveis do Brasil. Investir em prevenção, como a educação para uma boa higiene íntima, o acesso à vacinação contra o HPV e a ampliação do atendimento médico especializado, é crucial para mudar esse cenário. Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias, como a cirurgia robótica, demonstra o potencial do país em avançar no tratamento oncológico e proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes.