Infectologista e nutricionista ainda apresentam dicas para pacientes obterem uma melhor qualidade de vida. 
Ao longo deste mês, em que é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra Hepatites Virais (27/07), acontece a campanha Julho Amarelo, uma iniciativa do Ministério da Saúde que visa conscientizar a população sobre a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais.
Através da ação são promovidas diversas atividades em todo o país, como palestras, distribuição de materiais informativos e realização de testes rápidos e vacinação, com o objetivo de informar a população sobre os riscos das hepatites virais e incentivar a detecção precoce e o tratamento adequado.
De acordo com Sílvia Fonseca, médica pediatra, infectologista e epidemiologista e docente do IDOMED, as hepatites virais são inflamações no fígado causadas por diferentes tipos de vírus. Os tipos mais comuns que afetam a população brasileira são as hepatites A, B, C, D e E. As mais prevalentes no Brasil são as hepatites A, B e C.
A prevenção das hepatites virais varia conforme o tipo. Para a hepatite A, a prevenção inclui melhorias nas condições de saneamento básico e higiene pessoal, além da vacinação. A hepatite B pode ser evitada através da vacinação, uso de preservativos, não compartilhamento de seringas e agulhas, e cuidados ao realizar procedimentos como tatuagens e piercings. Já a hepatite C, para a qual não há vacina, é prevenível principalmente evitando o compartilhamento de materiais cortantes e perfurantes e garantindo a segurança em transfusões de sangue e hemoderivados.
As hepatites A e E são transmitidas principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados. As hepatites B, C e D são transmitidas pelo contato com sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas e de mãe para filho durante o parto.
“Os sintomas das hepatites virais podem variar de leves a graves e incluem cansaço, febre, mal-estar, dor abdominal, náuseas, vômitos, urina escura, fezes claras e icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos). Porém, pode acontecer os casos chamados de hepatites assintomáticas, especialmente nos estágios iniciais, o que torna a detecção precoce ainda mais desafiadora”, comenta Sílvia Fonseca.
A detecção precoce é de fundamental importância para evitar complicações graves, como cirrose e câncer de fígado. “O diagnóstico precoce permite iniciar o tratamento adequado mais rapidamente, o que pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a transmissão do vírus”, ressaltou Dra. Sílvia.
O diagnóstico das hepatites virais é feito por meio de exames de sangue que detectam a presença dos vírus ou dos anticorpos produzidos pelo organismo em resposta à infecção. Os testes rápidos, oferecidos durante a campanha Julho Amarelo, são uma ferramenta eficaz para a detecção precoce.
O tratamento das hepatites virais também varia conforme o tipo de hepatite. As Hepatites A e E geralmente não requerem tratamento específico (exceto em casos graves), apenas medidas de suporte, como repouso e hidratação. A Hepatite B pode ser tratada com antivirais para reduzir a carga viral e prevenir complicações e a Hepatite C deve ser tratada com antivirais de ação direta, que têm alta taxa de cura. Já a Hepatite D tem o tratamento focado na hepatite B, podendo incluir interferon. “Para uma melhor qualidade de vida, os pacientes devem seguir as orientações médicas, evitar o consumo de álcool, manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas regularmente e realizar exames de acompanhamento para monitorar a saúde do fígado”, orienta.
 
Alimentação balanceada auxilia na qualidade de vida dos pacientes
De acordo com Juliana Gonçalves, nutricionista e professora do curso de Nutrição da Estácio, os sintomas das hepatites virais podem piorar o estado nutricional do paciente, causando desnutrição, entre outros problemas. Por isso, após o diagnóstico da doença, é necessário o acompanhamento e avaliação para a definição de uma conduta nutricional conforme a aceitabilidade do paciente.
De uma forma geral, a especialista destaca que a alimentação saudável deve ser priorizada na prevenção ou tratamento de qualquer tipo de patologia. Com relação às hepatites virais, especificamente, Juliana explica o ideal é que sejam feitas de cinco a seis refeições ao longo do dia, sempre com alimentos mais saudáveis, proteínas magras, frutas, verduras e legumes, dando prioridade para alimentos integrais, que são ricos em antioxidantes e outros nutrientes que podem promover uma recuperação da saúde hepática. Entre as dicas de itens para consumo, a nutricionista destaca:
  • Frutas: maçã, abacaxi, mamão, laranja e morango;
  • Legumes e verduras: alface e brócolis, por exemplo;
  • Proteínas magras: peixes e frango;
  • Cereais integrais: arroz e macarrão;
  • Leguminosas: feijão e grão de bico;
  • Gorduras saudáveis: azeite e óleo de abacate;
  • Laticínios com pouca gordura: leite e iogurte desnatado;
  • Tubérculos: batata, aipim e batata-doce;
  • Temperos mais naturais: orégano, coentro, salsa e hortelã;
  • Bebidas vegetais: leite de aveia ou leite de arroz.
Já entre os alimentos que não devem ser consumidos (ou devem ser, ao menos, evitados), principalmente durante a hepatite relacionada à produção de gorduras e ácidos biliares, estão: carnes gordas (carne vermelha e bacon), laticínios com muita gordura (manteiga, margarina e leite integral), embutidos (linguiça, salsicha e salames). “Os alimentos industrializados devem ser evitados de uma forma geral, assim como os fast-foods, alimentos muito ricos em açúcares, como chocolates e refrigerantes, temperos e molhos industrializados e prontos como ketchup e principalmente o consumo de bebidas alcoólicas. Realmente, o ideal seria o paciente não consumir bebida alcoólica”, ressalta a nutricionista.
Segundo Juliana, a chamada “Dieta Mediterrânea”, que surgiu na década de 90 justamente como um padrão alimentar rico em alimentos saudáveis, seria uma boa opção para pacientes com hepatites virais: “ela reduz o consumo de gorduras e açúcares e tem essa ação antioxidante, sendo rica em frutas e verduras, que vai auxiliar e beneficiar a saúde hepática”.
“No mais, o paciente deve manter hábitos e estilo de vida saudáveis. A ingestão de água é extremamente importante e deve-se avaliar as possíveis deficiências nutricionais que o paciente pode ter. Um ponto importante é o controle do ferro, um nutriente que pode ser encontrado com acúmulos excessivos no corpo de pacientes com doenças hepáticas. Então, é muito importante tentarmos manter esse equilíbrio, indo em um nutricionista para avaliar os níveis de ferro e buscar entrar em uma normalidade para o paciente”, explica a especialista.
Além dos cuidados durante o tratamento, a alimentação também pode auxiliar na prevenção contra as hepatites. Conforme a nutricionista, consumir alimentos bem cozidos e higienizados é muito importante para evitar não só o vírus da hepatite como qualquer outro tipo de patologia que possa ser transmitida por alimentos. “Hoje a gente sabe que, apesar de ter vacina contra o vírus da hepatite, a melhor forma de evitá-la é sempre através do saneamento básico, tratamento adequado da água e a higienização dos alimentos”, diz.
A higienização dos alimentos, de acordo com Juliana, pode ocorrer através de gotas de água sanitária (principalmente as indicadas para uso alimentar), vinagre, bicarbonato de sódio e hipoclorito de sódio. O processo deve ser feito em todos os alimentos crus, frutas, verduras e legumes, mas sempre com uma água adequada e higienização correta das mãos. “Podemos dissolver os produtos para a higienização dos alimentos, mas devemos cuidar muito bem a quantidade que será utilizada”, alerta.