O Grupo de Estudos em Reprodução Humana e Assistida (GERHA) foi criado a partir do interesse de oito alunas em se aprofundar mais sobre o tema, bem como ter contato com a produção científica.
O Grupo conta com a orientação do professor do curso de Medicina e do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor, Marcelo Cavalcante (Foto: Ares Soares)
Novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado recentemente, apontou que 1 em cada 6 pessoas, no mundo, fracassam em conseguir uma gravidez após 12 meses ou mais de relações sexuais regulares desprotegidas, o equivalente a 17,5% da população adulta. Nas Américas, onde o Brasil está situado, o número é ainda maior, chegando a 20%. Os índices mostram que o número de casais com dificuldade para engravidar dobrou nos últimos 10 anos. O relatório, que fornece dados sobre a prevalência global e regional da infertilidade, analisou todos os estudos relevantes na área realizados entre 1990 e 2021.
Diante desse cenário, que evidencia a necessidade urgente de aumentar as ações e discussões acerca do tema, oito alunas do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz, criaram o Grupo de Estudos em Reprodução Humana e Assistida (GERHA). Segundo relata Clara Muniz, que inicia o quarto semestre do curso de Medicina da Unifor em setembro, tanto a proposta da criação do grupo extracurricular como o tema escolhido partiram da vontade das integrantes do GERHA de ter um maior aprofundamento sobre o tema e um maior contato com a produção científica na área de reprodução humana.
“Estávamos no terceiro semestre, quando são vistos os assuntos de Ginecologia, Obstetrícia e Pediatria. As aulas do currículo padrão deram a oportunidade de termos contato com a saúde reprodutiva e com profissionais maravilhosos especialistas nessa área Porém, percebemos que o tempo dedicado ao estudo da reprodução humana e assistida é pouco frente à imensidão de conteúdo que pode ser abordado e à importância do tema no cenário mundial e, a partir disso, tivemos o desejo de formar nosso grupo a fim de ampliar os recursos para o estudo dessa área”, explica a discente.
Para o médico especialista em reprodução humana, Marcelo Cavalcante, professor do curso de Medicina e do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor, orientador do Grupo, a criação do GERHA é uma iniciativa de grande importância, pois, apesar da grande demanda de casos de infertilidade, os cursos de graduação, não só de medicina, mas enfermagem, nutrição e psicologia, não dispõem de carga horária suficiente para abordar esse tema de forma mais aprofundada. “Assim, o GERHA, certamente, ajudará os estudantes da graduação a conhecer mais sobre o tema, ajudando a desmistificar e, no futuro, despertar o interesse para a formação de novos profissionais na área”, afirma.
O grupo de estudos tem como pilares o ensino, a pesquisa e o marketing. Durante o semestre, os alunos, sempre sob orientação do professor, organizam atividades em torno desses três pilares. O GERHA iniciou suas atividades na primeira semana de junho, Mês de Conscientização sobre a Infertilidade e, de acordo com Clara, o dia a dia do grupo envolve aulas semanais, de temas pré definidos em conjunto com o orientador, ministradas pelos próprios membros.
A discente acrescenta que a pesquisa também é uma área na qual o grupo consegue se aprofundar bastante, desde a construção de trabalhos para congressos até a produção de livros. Todas as atividades são sempre registradas pelos membros responsáveis pelo marketing, que trabalham na identidade visual e divulgação do grupo.
“Esse cenário alarmante e crescente dos índices de infertilidade, exige que os profissionais da saúde sejam capacitados a lidar com questões de saúde reprodutiva, além de contribuir para avanços nessa área, e o grupo surgiu com o interesse de fazer parte desses avanços. O objetivo da atuação do grupo é promover maior acesso a informações sobre reprodução humana e assistida, tanto entre os participantes quanto para os demais públicos interessados, como outros estudantes e pacientes, sempre visando a inserção e a colaboração na atualização do meio científico. Ao proporcionarmos esse conhecimento aos pacientes, eles passam a ter autonomia no cuidado da sua saúde reprodutiva e saber quando precisam procurar ajuda de um profissional. ” – Clara Muniz, aluna do curso de Medicina da Unifor.
Medicina reprodutiva
Especialidade médica que atua na área de reprodução humana e auxilia pessoas com dificuldades para engravidar a terem gestações saudáveis, a medicina reprodutiva é uma ciência relativamente nova. O primeiro bebê gerado por meio da fertilização in vitro (bebê de proveta) veio ao mundo em 1978. Contudo, ao longo dos anos, a área avançou consideravelmente. Entre esses avanços, o professor Marcelo Cavalcante, destaca a técnica da injeção intracitoplasmática de espermatozoides, que permite que homens com quantidades mínimas de espermatozoides possam ser pais.
“Outro importante avanço foi a investigação genética pré-implantacional. Essa técnica permite a investigação de doenças cromossômicas, como a Síndrome de Down e Síndrome de Turner, e doenças gênicas como, por exemplo, a Fibrose Cística, antes da transferência do embrião para a cavidade uterina. É esperado que novos avanços sejam alcançados nos próximos anos. Porém, sempre com grande atenção nas questões éticas”, enfatiza.
Desafios da reprodução humana
Os crescentes índices de infertilidade, tanto feminina quanto masculina, podem ter múltiplas explicações. “Estilo de vida, estresse, alimentação não saudável, fatores ambientais, como contaminantes do meio ambiente e poluição, e doenças crônicas prejudicam não só a fertilidade masculina e feminina, mas também elevam o risco de complicações obstétricas e após o nascimento”, detalha Marcelo. Por isso, segundo o especialista, é importante um bom planejamento reprodutivo, já que os efeitos deletérios dessas condições podem ser revertidos com intervenções antes da gravidez.
Outro fator que tem contribuído para que mais indivíduos apresentem dificuldade na concepção é a tendência mundial que aponta que os casais têm optado por adiar os planos de ter filhos. Especialmente as mulheres, nos dias de hoje, têm priorizado a estabilidade financeira e profissional antes da maternidade.
Todavia, a mulher já nasce com a quantidade de óvulos definida, que são liberados ao longo da vida reprodutiva. Portanto, segundo Marcelo, à medida que a idade da mulher avança, ela perde quantidade e qualidade de óvulos, podendo ter dificuldade para engravidar, além de risco aumentado de doenças genéticas.
No caso dos homens, apesar dos espermatozóides serem produzidos continuamente, a idade dos pais também interfere na qualidade dos gametas. Dessa forma, os riscos de ter filhos com problemas de saúde, tais como doenças neurológicas, aumenta em homens com idade mais avançada.
“Os casais que estão optando por adiar um pouco os planos de aumentar a família devem realizar um bom planejamento reprodutivo. Saber com que idade pretendem ter filhos e quantos filhos desejam ter. Existem maneiras de preservar a fertilidade de forma saudável. Técnicas de congelamento de óvulos e espermatozoides podem ajudar esses casais” – Marcelo Cavalcante, professor do curso de Medicina e do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor
Além disso, para diminuir as chances de ter filhos com alguma síndrome ou doença neurológica sem que seja necessário antecipar a decisão de ter filhos, Marcelo explica que é possível realizar um diagnóstico genético pré-implantacional dos embriões. “Durante a realização da fertilização in vitro, antes da transferência do embrião para a cavidade uterina, uma amostra de células é retirada e analisada. Assim, embriões que apresentam alguma alteração genética não são transferidos. Essa técnica, também pode diagnosticar embriões com doenças genéticas que ocorrem nas famílias dos pais”, reforça.