Na última terça-feira (1°/10), o RioMar Kennedy foi palco de uma grande celebração da diversidade e inclusão com o Desfile Moda TransForma, realizado na Praça de Eventos (Piso L3). O evento atraiu um público expressivo, que teve a oportunidade de conferir uma seleção de mais de 20 looks autorais, criados por estilistas da Casa de Andaluzia, associação que oferece suporte e capacitação à comunidade LGBTI+. Além dos desfiles, a noite contou com a apresentação do DJ Viúva Negra e uma performance com a Mulher Barbada.

O desfile foi fruto de uma parceria entre o RioMar Kennedy, a Casa de Andaluzia, o Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM), por meio do Coletivo Transcende, e o Comitê de Empregabilidade e Empreendedorismo LGBTI+. As modelos, pessoas trans, envolveram o público com talento e carisma, destacando o poder transformador da moda como um instrumento de dignidade e oportunidades, tanto pessoais quanto profissionais.

“Eventos como esse são essenciais para promover a visibilidade e a dignidade das pessoas trans. Eles não apenas criam espaços de valorização e reconhecimento de talentos, mas também ajudam a desconstruir preconceitos e abrir portas para novas oportunidades. A moda é uma plataforma poderosa de expressão e, quando aliada à inclusão, torna-se uma ferramenta transformadora na vida dessas pessoas, mostrando à sociedade que todos têm direito a ocupar seu lugar com respeito e dignidade”, explica Edgard Cruz, coordenador do IJCPM em Fortaleza.

Transformando vidas

O Desfile foi apresentado pela Mulher Barbada e Amanda Agnes, ex-aluna da Casa de Andaluzia. Emocionada, ela relatou como a entidade transformou sua vida. “A entidade salvou minha vida! Antes de chegar na Casa, eu não tinha perspectiva, não sabia o que era amizade, respeito ou dignidade. Hoje, posso dizer que conquistei tudo isso e muito mais. Agora, trabalho no ramo da beleza, ajudando pessoas em situação de vulnerabilidade social e apresentando eventos como o Desfile Moda TransForma”, explica. 

Já Matilda Rodrigues, uma das estilistas que teve suas criações apresentadas na passarela, destacou a importância de ocupar espaços como o RioMar Kennedy. “Estamos recuperando o que nos foi tirado. Estar aqui é a prova de que estamos no caminho certo. A moda e a arte têm o poder de contar muitas histórias, e nós, pessoas trans e periféricas, precisamos mostrar isso”, reforça. 

As modelos do desfile foram selecionadas tanto entre as participantes da Casa de Andaluzia quanto do Coletivo TransForma. Kauane Victória, que desfilou pela primeira vez no RioMar Kennedy, falou sobre sua experiência: “Foi a realização de um sonho! Eu sempre quis desfilar e essa noite superou todas as minhas expectativas”, pontua.

Kauane também celebrou a união entre as entidades que apoiam a comunidade LGBTI+: “O Desfile Moda TransForma criou um palco maior para as meninas da Casa de Andaluzia mostrarem seus talentos, além de nós, do Coletivo. É fundamental que essas instituições trabalhem juntas, pois, assim, todas nós crescemos”, finaliza.

Oportunidade e dignidade  

Temas como diversidade e empregabilidade estão no cerne do IJCPM, especialmente diante de dados alarmantes sobre a necessidade de inclusão e proteção de pessoas trans no Brasil. O Dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) registrou 145 homicídios motivados por transfobia em 2023. O Ceará ocupa o terceiro lugar nesse triste ranking, com 12 assassinatos, atrás de São Paulo (19) e Rio de Janeiro (16). Outro relatório, da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), aponta 354 casos de homofobia ou transfobia denunciados no Ceará no ano passado.

Fundado em 2023 pelo IJCPM, o Coletivo Transcende tem como objetivo criar uma rede de apoio que inclui capacitação profissional, visando à inclusão e proteção de pessoas trans, oferecendo oportunidades de emprego e renda. Com parcerias como a Secretaria de Diversidade do Ceará, Centro de Referência Thina Rodrigues, Ministério Público e Senac, o Coletivo busca retirar essas pessoas da vulnerabilidade social e combater a marginalização que as expõe à violência. O coletivo também promove a cultura de Diversidade e Inclusão junto aos lojistas do shopping, incentivando a contratação de pessoas trans.

“Incluir pessoas trans no mercado de trabalho traz benefícios para todos: ao valorizar a diversidade, as empresas se tornam mais inovadoras e criativas. Já o empoderamento econômico de jovens trans reforça o potencial deste grupo para contribuir com a economia do país”, conclui o coordenador do IJCPM.