A regulamentação do comércio dos cigarros eletrônicos, proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tem sido pauta de discussão na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal. Os riscos ocasionados por essa prática nortearam as preocupações dos senadores que se dividem entre a regulamentação ou não dos dispositivos. Sem nicotina, o cigarro eletrônico tornou-se uma alternativa popular entre os que buscam fumar sem a substância na composição do modelo. Especialistas do Centro Universitário Fametro (Unifametro) afirmam que o conhecido “vaper” pode acarretar malefícios em diversas áreas da saúde.

 

Mesmo proibido, segundo a Agência Senado, 16,8% dos adolescentes a partir de 13 anos já experimentaram Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). A Pesquisa Nacional de Saúde (2019) mostrou que 70% dos usuários têm entre 15 e 24 anos. Os jovens são especialmente atraídos por diversas ofertas de saborizantes, aromas e sais de nicotina utilizados nos líquidos dos cigarros eletrônicos, com produtos sem qualquer controle. Os usuários alegam que o dispositivo, além de não conter odor, é menos prejudicial à saúde que o cigarro convencional.

 

De acordo com Moisés Maia Neto, professor dos cursos de Farmácia e Enfermagem da Unifametro, os DEFs apresentam menos substâncias tóxicas, mas o quantitativo não se traduz na redução dos malefícios quando comparado ao cigarro convencional. “Para os usuários de cigarros com tabaco, há um consenso que a troca pode trazer benefícios, mesmo que limitados. No entanto, a aderência por parte dos não dependentes, principalmente adolescentes e jovens, pode trazer diversos prejuízos a nível cardiovascular e respiratório, além dos cognitivos a longo prazo difíceis de mensurar”, explica Moisés.

 

Os cigarros convencionais, regulamentados pela Anvisa, são produzidos com um miligrama de nicotina. Já os eletrônicos, podem conter a substância em maior quantidade, pela falta de fiscalização. Enquanto um cigarro comum oferece cerca de 15 tragadas, um vaporizador possibilita cerca de 1,5 mil, o equivalente a cerca de cinco maços de cigarro.

 

Prejuízos ao sistema respiratório

 

Natália Aguiar, fisioterapeuta e professora do curso de Fisioterapia da Unifametro, revela que o uso de cigarro eletrônico também pode levar a diversos danos ao sistema respiratório, gastrointestinal, além de causar dependência e estimular o uso de cigarros convencionais. A EVALI, sigla em inglês para “Lesão Pulmonar Associada ao uso de Cigarro Eletrônico”, é um exemplo de doença causada pelo uso do dispositivo. Falta de ar, tosse, náuseas, vômitos, febre, mal-estar, taquicardia e taquipneia são alguns dos sintomas

 

“É uma reação inflamatória no pulmão, pode ocasionar fibrose pulmonar, pneumonia ou insuficiência respiratória. Quando diagnosticado, o paciente precisa suspender o uso do cigarro eletrônico, além de buscar suporte clínico, como suprimento de oxigênio e aplicação de ventilação mecânica”, explica a fisioterapeuta. No processo de recuperação da EVALI, segundo Natália, o fisioterapeuta é imprescindível, principalmente na melhora da funcionalidade pulmonar e suporte ventilatório.

 

Danos à saúde bucal

 

Quanto à saúde bucal, a professora Paula da Silveira, do curso de Odontologia da Unifametro, esclarece o uso de substâncias já comprovadas como irritantes para as vias aéreas na produção do aerossol presente nos cigarros eletrônicos, a exemplo do propilenoglicol e glicerol.

 

Além disso, a professora alerta sobre os riscos de explosão dos dispositivos na boca dos usuários. Segundo Paula da Silveira, este fato pode ocorrer devido às baterias de lítio utilizadas em muitos desses e-cigs. Com o aumento da temperatura interna e o superaquecimento, eles podem explodir, causando queimaduras químicas.

 

“Há relatos clínicos de pacientes que sofreram com essas explosões e o cenário não é dos melhores. Esses pacientes registram danos severos na cavidade bucal, aumento de incidência e severidade da doença periodontal, fraturas na pré-maxilar e luxações nos dentes. Além de repercussões extraorais, como lacerações no lábio superior, mucosa labial, gengiva, língua e até na pele da face”, alerta Paula.