No Brasil, a diversidade capilar é um símbolo cultural que reflete as heranças do país. Hoje em dia, há uma extraordinária variedade de texturas capilares que compõem a sociedade, com as cacheadas, crespas e onduladas emergindo como a maior parcela da população, mais de 60%, de acordo com uma pesquisa realizada pela Kantar WorldPanel.

Mais do que apenas padrões de cabelo, essas texturas representam a liberdade, aceitação das características naturais e é também considerado um símbolo de empoderamento. É um movimento que, inclusive, está impulsionando uma indústria que valoriza produtos e técnicas específicas para cuidar das curvaturas do cabelo, feito que não ocorria em massa quando se fala de poucos anos atrás.

No cenário, marcas brasileiras têm respondido às necessidades dos consumidores, oferecendo uma gama de produtos desenvolvidos especialmente para os tipos de cabelos com curvas. Uma das pioneiras é a Beleza Natural, empresa fundada pela empresária Zica Assis diante da necessidade de cuidados com os próprios cabelos e de atravessar o preconceito imposto como padrão na sociedade.

No entanto, para chegar até a fundação da marca, a empresária também foi passadeira, babá e faxineira. Porém, decidiu que queria estudar para ser cabeleireira, quando também se deparou com uma lacuna de cuidados do mercado para os cabelos com curvas. “Fui fazendo o curso de cabeleireiro, aprendi de tudo o que o mercado oferecia, tudo. Alisar, escovar, botar bob. Mas e aí, e o meu cabelo?”, pontua Zica.

“Eu não me conformava com a falta de respeito com o meu cabelo. Eu queria um tratamento que cuidasse e preservasse a originalidade dos meus filhos. Foram dez anos de pesquisa em casa até chegar à fórmula ideal. Eu tenho muito orgulho em falar que levantei essa bandeira e de que fomos a primeira empresa do Brasil a olhar para esse mercado”.

O legado de Zica também está no livro “Beleza Natural. A História da Rede de Cabeleireiros que Levantou a Autoestima das Brasileiras”, escrito pela jornalista Liana Melo.

Referência

O movimento de transição e liberação dos cabelos naturais não apenas valoriza a diversidade, mas cria um senso de comunidade e apoio entre aqueles que compartilham experiências semelhantes. Antes mesmo de lançar a marca, Zica ganhava concursos do melhor cabelo black power da comunidade em que vivia, no Rio de Janeiro, e logo passou a ser modelo para as outras pessoas. “Foi aí que eu vi que a realidade era outra, não era só o meu [cabelo], não era só a minha necessidade, todo mundo estava sofrendo [por falta de produtos para cabelos com curvatura] como eu, porque não queriam alisar o cabelo”, destaca Zica.