Nos últimos anos, a dinâmica do trabalho no Brasil tem passado por profundas transformações. Com o avanço das discussões sobre qualidade de vida e saúde mental, a proposta de adotar a semana de quatro dias de trabalho começa a ganhar destaque em várias partes do mundo e, cada vez mais, também no Brasil. O modelo, que já é uma realidade em alguns países, como na Islândia, na Nova Zelândia e no Japão, começa a ser testado por algumas empresas brasileiras que buscam um equilíbrio entre produtividade e bem-estar de seus colaboradores.

Para Izabela Holanda, diretora da IH Consultoria e Desenvolvimento Humano e mestre em felicidade no trabalho, essa mudança representa muito mais do que simplesmente reduzir a jornada semanal. “A adoção da semana de quatro dias é uma oportunidade para repensarmos como trabalhamos e como podemos ser mais felizes e produtivos ao mesmo tempo. Mas essa transição não é simples. Ela exige um novo olhar para a forma como as empresas organizam seu trabalho e como gerenciam as pessoas e as equipes”, afirma Izabela.

A implementação de uma semana de quatro dias requer mais do que um simples ajuste de horário. Segundo Izabela, as empresas precisam, de fato, redesenhar seu modelo organizacional. “É preciso pensar em como otimizar os processos, investir em tecnologias que aumentem a produtividade e, principalmente, criar uma cultura de confiança e flexibilidade”, explica. Essa mudança envolve uma transição cuidadosa que leva em consideração as necessidades de cada equipe e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

A especialista também ressalta que a simples redução de dias de trabalho não garante, por si só, um aumento na produtividade ou na satisfação dos colaboradores. “É necessário olhar para o modelo de trabalho de forma holística. A semana de quatro dias deve estar alinhada à estratégia da empresa, ao mesmo tempo em que respeita as necessidades dos colaboradores e promove um ambiente de trabalho mais saudável e acolhedor”, complementa.

Quando falamos sobre os benefícios desse novo modelo, são muitos os pontos positivos. Izabela acredita que a semana de quatro dias pode ter um impacto muito positivo na vida dos trabalhadores. Entre os principais benefícios estão:

  1. Aumento da produtividade – Menos tempo no escritório não significa menos trabalho. Ao contrário, a redução dos dias de trabalho pode resultar em mais foco e concentração, já que os colaboradores se sentem mais motivados e descansados. “Quando as pessoas têm tempo para descansar de verdade, elas voltam ao trabalho com mais energia e criatividade”, explica Izabela.

  2. Melhoria do bem-estar e da saúde mental – Reduzir a carga horária semanal permite que os colaboradores tenham mais tempo para si mesmos, para se dedicar à família, aos amigos ou a atividades pessoais. O impacto disso na saúde mental é imenso, com a redução do estresse, da ansiedade e do esgotamento emocional.

  3. Maior retenção de talentos – O modelo de semana de quatro dias tem se mostrado uma excelente ferramenta para reter bons profissionais. Isso porque muitas pessoas hoje buscam empresas que entendam a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e que ofereçam um ambiente de trabalho mais flexível e humanizado.

  4. Redução de custos operacionais – A redução de dias úteis também pode gerar uma diminuição de custos para as empresas, como com o uso de energia e outros recursos. Além disso, ao melhorar o clima organizacional, as empresas podem reduzir a rotatividade de funcionários, o que, por sua vez, diminui os custos com recrutamento e treinamento.

  5. Maior satisfação e engajamento – Funcionários que sentem que seu tempo é valorizado tendem a ser mais satisfeitos e engajados no trabalho. Isso resulta em uma maior disposição para contribuir com os objetivos da empresa e também em uma redução de absenteísmo e turnover.

Desafios e cuidados ao implementar a semana de quatro dias
No entanto, como qualquer mudança significativa, a implementação da semana de quatro dias apresenta desafios que precisam ser cuidadosamente avaliados. Para Izabela, um dos maiores obstáculos é a resistência cultural, especialmente em empresas mais tradicionais, que ainda enxergam a carga horária como a principal medida de produtividade. “Mudar a mentalidade de líderes e gestores sobre o que é um bom desempenho no trabalho não é fácil, mas é essencial para que essa mudança aconteça de forma bem-sucedida”, destaca a especialista.

Outro desafio é a adaptação de empresas que precisam de cobertura contínua. “Setores como saúde, transporte e segurança, por exemplo, enfrentam dificuldades para reduzir a jornada de trabalho sem comprometer a qualidade dos serviços. Nessas áreas, a solução pode passar por ajustes no modelo de escalas de trabalho ou até mesmo pela incorporação de mais tecnologia e automação”, explica Izabela.

Além disso, há o risco de que a demanda por produtividade aumente. Se não for bem gerida, a redução de dias de trabalho pode acabar sendo acompanhada por uma cobrança excessiva sobre a performance diária. “A chave está em encontrar o equilíbrio. A redução de horas não pode resultar em uma sobrecarga no tempo restante”, alerta Izabela.

O fim da escala 6×1, em tramitação no Congresso Nacional, abre um debate ainda mais amplo sobre o futuro do trabalho no Brasil. A possibilidade de adotar modelos mais flexíveis, como a semana de quatro dias, representa uma oportunidade única para as empresas repensarem suas relações com os colaboradores, colocando mais foco no ser humano e em sua qualidade de vida.

“Ao repensarmos a jornada de trabalho, estamos falando de mais do que apenas otimizar a produtividade. Estamos falando de criar um ambiente de trabalho mais saudável, inclusivo e, principalmente, mais humano. E essa mudança começa com um olhar atento às necessidades das pessoas, que são, afinal, o maior ativo das empresas”, conclui Izabela.