Para promover o conhecimento científico e intercâmbio de ideias, visando estimular a conservação da biodiversidade e o manejo sustentável dos ecossistemas brasileiros, o segundo dia de programação da 4º Jornada Sustentável Beach Park, reuniu, nesta terça-feira (05), no Espaço Azul do Mar, pesquisadores, biólogos, educadores ambientais e especialistas em meio ambiente de diversas regiões do País, numa série de palestras e painéis que abordaram a reabilitação e refaunação de espécies nativas do Ceará e do Brasil, além de destacar a importância da educação ambiental e da participação das comunidades para a proteção e o manejo adequado da fauna silvestre e dos biomas.

Durante o encontro, o Beach Park, por meio do Arvorar, novo parque temático do grupo voltado à educação ambiental, pesquisa e conservação da biodiversidade brasileira, realizou o lançamento do Edital de Apoio para Programas de Refaunação e Reabilitação de Animais Silvestres no Ceará, que contemplará projetos direcionados à expansão e ao aprimoramento de técnicas de reabilitação e de soltura de animais em cativeiro ou privados momentaneamente de liberdade (por apreensão, lesão ou outros motivos associado) e às melhorias de resultados no processo de soltura de animais da fauna cearense. O período de inscrições deve ser anunciado em breve. Por meio da chamada, pretende-se disponibilizar valores entre R$ 20 mil e R$ 100 mil por projeto.

O CEO do Beach Park, Murilo Pascoal, e a gerente de sustentabilidade Raíssa Bissol, realizaram a abertura do evento destacando a oportunidade que a programação da Jornada Sustentável e os projetos apresentados pelos participantes oferecem de inspirar mudanças reais para transformar a conservação no Ceará e no Brasil, além de ressaltarem o compromisso com a sustentabilidade ao longo da trajetória do grupo, com os diferentes projetos, iniciativas e parcerias que ajudaram a trilhar o caminho e permitiram a experiência e o amadurecimento para a concepção do Arvorar.

Painéis e palestras

Entre os palestrantes, estiveram profissionais de destaque nacional, que compartilharam experiências exitosas e práticas inovadoras para a proteção das espécies nativas e os desafios enfrentados por quem trabalha na linha de frente do combate ao tráfico de animais e no enfrentamento de desafios ocasionados pelas mudanças climáticas, dentre outros. Durante o evento, houve a apresentação e o compartilhamento de projetos importantes e inovadores nas diversas regiões do país.

Apresentado por Leanne Soares, gerente do Parque Arvorar, e Fábio Nunes, da ONG Aquasis, o projeto Refauna Arvorar, iniciativa realizada em parceria com as ONGs Associação Caatinga e Aquasis, que tem por objetivo o repovoamento de aves nativas do Ceará ameaçadas de extinção, começando com a Jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya) e o Periquito Cara-Suja (Pyrrhura griseipectus), foi um dos destaques. “Esse projeto é o coração do Arvorar e foi pensado com esse foco pois era um sonho em comum. Ele está em andamento, dando os primeiros passos, mas ainda pode e deve contemplar outras espécies. A gente sempre pensa em poder fazer mais e poder trabalhar a conservação de forma mais ampla”, afirmou Leanne.

Em seguida, as palestrantes Camila Martins, bióloga e Fundadora e consultora da Em.prática – Consultoria em Projetos Educacionais (SP), e Romana Aguiar, coordenadora de Educação Ambiental do Parque Arvorar, trouxeram o tema “Educação para conservação” para a roda de debates. Ambas destacaram a importância de tornar acessível a educação ambiental para todos os tipos de público e de promover a conexão emocional com a natureza para a efetiva sensibilização e engajamento das pessoas em relação às questões ambientais.

“Não basta só falarmos para nós mesmos, não basta falarmos para os mesmos biólogos, veterinários, zootecnistas. Temos que falar para todos os públicos. Precisamos dialogar com as comunidade das áreas impactadas, das áreas de reintrodução, de refaunação. Precisamos envolver pesquisadores, mas precisamos envolver também crianças, adultos, jovens, a comunidade como um todo. Não basta saber só a parte técnica. Não é só isso que precisamos para conectar as pessoas que vão visitar, por exemplo, o parque Arvorar nas férias. Precisamos pensar o tipo de educação necessária para esses espaços”, enfatizou Camila.

Nessa perspectiva, Romana falou sobre o plano pedagógico do Arvorar, que foi concebido de forma interdisciplinar e que traz diversos elementos que permitem conectar os públicos de diferentes formas. “Inspirar para conservar é a missão do Arvorar, e quando falamos de inspirar, falamos de algo que é subjetivo, não dá pra tocar. Mas quando falamos em conservar, falamos de uma coisa concreta, palpável. No conservar, eu posso fazer com que o que está no campo das ideias se materialize para a execução”, observa a especialista.

Já a bióloga Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul e reconhecida por integrar o hall da fama da ONU Mulheres, braço das Nações Unidas que promove o empoderamento da mulher e igualdade de gênero, falou sobre práticas e manejo em prol da conservação. Ela relembrou o início do trabalho de pesquisa no início dos anos 1990, quando a espécie estava desaparecendo na natureza, devido a um severo processo de defaunação ocasionado pelo tráfico de animais. Em meio aos desafios da falta de métodos e referências para executar o trabalho, foi pioneira na organização de projetos no âmbito da preservação dessa espécie e, em 2003, fundou o Instituto Arara Azul, para manter e incentivar o desenvolvimento científico da pesquisa na área. Em dezembro de 2014, conseguiu o feito da retirada da arara-azul da lista de espécies ameaçadas.

Ainda assim, Neiva alertou para os riscos que as araras-azuis ainda estão expostas, como as mudanças climáticas, as queimadas e a falta de financiamento para pesquisa. Ela destacou a importância de projetos como o do Arvorar. “O Brasil é um país mega diverso e a gente está perdendo a nossa biodiversidade. Que esse projeto possa motivar outros empresários a também apoiarem projetos de conservação”, pontuou a bióloga.

Focados na temática da reabilitação de animais silvestres, Vanessa Kanaan, presidente do Instituto Fauna Brasil (SC), e Weber Girão, coordenador do projeto Soldadinho do Araripe (CE), compartilharam suas experiências com espécies como papagaios-de-peito-roxo, bugios-ruivos, e outros. Eles destacaram os desafios para a reintrodução de animais na natureza e a importância de estudos e aprimoramentos das áreas de soltura.

“Introduzir uma espécie na natureza significa devolvê-la para um local onde ela já está extinta, onde ela já desapareceu. No caso de uma reintrodução, precisamos saber se a área de soltura tem os recursos necessários para receber uma nova população. O segundo passo é encontrar animais que tenham os critérios comportamentais e sanitários para a soltura. Depois que esses animais são soltos, precisamos entender se esse processo foi efetivo. E para isso, nós temos o monitoramento, que é uma das partes mais importantes de um projeto de soltura. E como todos já disseram, sem o engajamento da comunidade, das pessoas, nenhum projeto de soltura é bem sucedido”, frisou Vanessa.

Finalizando o ciclo de apresentações, Marcelo Rheingantz, diretor executivo do Refauna Brasil (RJ), abordou a Síndrome das Florestas Vazias e a crise da biodiversidade. Desde 2010, o Refauna vem lutando para reverter a síndrome de florestas vazias em remanescentes de Mata Atlântica. Para isso, trabalha para restaurar as interações ecológicas que foram perdidas através da reintrodução de vertebrados. “A gente avalia não só as reintroduções, mas também o que essas espécies estão fazendo no ambiente quando eles voltam”, explicou.

Ele afirmou que a cada quatro de cinco espécies de árvores dependem dos animais para dispersar as suas cidades. Desse modo, as florestas que sofrem com processos de defaunação perdem não só a fauna, mas também a flora. “Não devemos nos enganar. Nós achamos que está tudo bem numa floresta cheia de árvores, quando olhamos as imagens de satélite e vimos aquele verde da copa das árvores. Mas no interior de muitas dessas florestas, sementes estão apodrecendo, não estão sendo dispersadas e, no final das contas, a floresta toda está condenada. Uma floresta vazia é uma floresta condenada”, enfatizou.

A programação da quarta edição da Jornada Sustentável do Beach Park segue até o dia 8 de novembro, na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), considerada a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Ceará, em Crateús, a aproximadamente 400 km da capital cearense. No local, gerido pela Associação Caatinga, os participantes irão conhecer mais uma etapa do Projeto Refauna Arvorar, o local onde algumas espécies contempladas pelo projeto serão reintroduzidas em seu habitat natural, além de participar de diversas outras atividades voltadas para a repovoamento de fauna e preservação de espécies ameaçadas.

Também irão participar de uma roda de conversa sobre o projeto de conservação do Periquito Cara-suja e projeto Refauna e de uma edição especial do “Passarinhar Serra das Almas”, uma caminhada especial de observação de aves, que proporciona uma verdadeira imersão na biodiversidade da região.

A relação do Beach Park com a Reserva Natural Serra das Almas já é antiga. Há três anos, o Beach Park inventaria e compensa suas emissões de carbono. E no ano passado, o Grupo recebeu o Selo ‘Protetor da Serra das Almas – categoria Onça Parda’, da Associação Caatinga, por compensar suas emissões por meio da adoção de 20 hectares na Reserva Natural Serra das Almas.

O encerramento será realizado na sexta-feira (8), com uma ação educativa voltada para os estudantes das escolas públicas do Porto das Dunas, Aquiraz. Eles irão até o Pátio de Compostagem do Beach Park para conhecer o projeto Mãos à Horta. Crianças e jovens terão a oportunidade de aprender sobre cultivo orgânico, compostagem, reciclagem e a importância de uma alimentação saudável e sustentável. As atividades não apenas promovem a educação ambiental, mas também fortalecem a cooperação e a responsabilidade social entre os alunos. Para a realização do evento, o Beach Park tem como apoiadores as marcas Solar Coca-Cola, Love Nuts e Renovate Planejados.

“A Jornada Sustentável é uma oportunidade de inspirar mudanças reais. A sustentabilidade é possível e acessível para todos, e juntos podemos construir um futuro mais verde e próspero”, enfatiza Raíssa Bisol, gerente de Sustentabilidade do Beach Park.