Tema foi pauta de café-debate do Lide Ceará com Alessandro Gratão, sócio especialista em Compliance, Investigation & Dispute Services da Grant Thornton Brasil.
Uma pesquisa da Grant Thornton Brasil apontou que 63% das empresas brasileiras relatam ter identificado fraude nos últimos 12 meses. O estudo foi apresentado por Alessandro Gratão, sócio especialista em Compliance, Investigation & Dispute Services da Grant Thornton Brasil em um café-debate do Lide Ceará.
O levantamento realizado em todos os estados brasileiros mostrou ainda que 47% dessas fraudes acontece por pessoas que ocupam cargos de gestão. “São funções nos quais é possível tomar diversas decisões sem uma dupla checagem. Isso dá uma maior autonomia aos potenciais fraudadores”, explicou Alessandro Gratão. O estudo trabalha com a metodologia do Triângulo das Fraudes, desenvolvido por Donald Cressey, que aponta três principais motivações para fraudes: motivação/pressão, racionalização e oportunidade. No Brasil, esse último item é a razão de 94% dos ocorridos. Já a faixa de idade dos fraudadores está majoritariamente entre 26 e 45 anos, com 87% das ocorrências registradas.
Um item que chama a atenção é a postura da pesquisa após a descoberta das fraudes. Apesar da demissão por justa causa ser a principal medida tomada, apenas em 20% dos casos há processo cível ou criminal. “Isso acaba dando margem para que fraudadores recomecem em outras empresas sem qualquer tipo de mancha no currículo. O que pode gerar a uma repetição do comportamento”, destaca Gratão.
“Nós trouxemos um dos temas de maior relevância esse ano: fraudes no Brasil. Fiquei muito impressionada com o trabalho da Grant Thornton Brasil sobre o tema. Criar mecanismos de compliance é um investimento necessário para todas as empresas. Estamos percebendo uma mudança na cultura organizacional das empresas, mas ainda há muitos casos de desvios de conduta nas companhias. O que implica a necessidade de estar atento e aperfeiçoar a conduta internamente”, explica Emília Buarque, presidente do Lide Ceará.
Identificação e conduta das empresas
Alessandro Gratão destacou ainda que em 93% dos casos o valor recuperado não é maior do que 20%. Isso se explica por comportamentos recorrentes percebidos nos fraudadores e utilizados para identificar fraudes, como estilo de vida incompatível, relacionamento atípico com terceiros, estilo de obter vantagens a qualquer custo com “jeitinho brasileiro e dificuldade financeira. “O perfil de pessoas que costumam fraudar as companhias apresenta um padrão de gastos consigo mesmo e terceiros. Por isso, na maioria dos casos, os valores retirados das companhias já foram gastos”, explica.
Os mecanismos internos são as formas mais eficazes percebidas para a identificação de fraudadores. O canal de denúncias vem sendo bastante eficiente nesse sentido. Ainda assim, há gargalos dentro das companhias. A pesquisa apontou que apenas 30% das empresas reportaram o uso da tecnologia para prevenção e monitoramento de fraudes. “É preciso que o compliance seja o café da manhã das empresas. Ter um código de conduta e aplicá-lo em nossa cultura organizacional se mostra como a forma mais eficaz de prevenir fraude”, ressalta Gratão.