Dias 24 e 25 de fevereiro, no Palco Principal do equipamento, a montagem conta com a direção de Paulo Campos dos Reis.
O Theatro José de Alencar (TJA), equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), recebe nos dias 24 e 25 de fevereiro, respectivamente às 19h e 18h, no Palco Principal, “Provavelmente Saramago: Um solo de Vinícius Piedade”, com direção de Paulo Campos dos Reis. Numa parceria com o Sesc Ceará, as apresentações são gratuitas e já estão com os ingressos disponíveis somente pelo site Sympla.
Sinopse
“Provavelmente Saramago” é um solo cuja trama gira em torno de um ator que, depois de ser preterido num casting para um filme (ficcionado) sobre Saramago, resolve montar um espetáculo de teatro no qual, ao mesmo tempo que revela a sua decepção com o cinema, partilha, com o público, as suas interpretações sobre a vida e obra de Saramago, bem como, rascunhos de encenações em torno de alguns dos seus romances. A cada nova tentativa de adaptação cênica, o ator revê-se nas suas ideias e tramas, cruzando ficção e realidade num labiríntico jogo de espelhos.
Entre o ficcional e documental, Vinícius Piedade (Brasil) e Paulo Campos dos Reis (Portugal) – atores, encenadores e dramaturgos (como o personagem do espetáculo) estabelecem um diálogo pessoal com José Saramago com o objetivo refletir/celebrar/problematizar, hoje, a recepção da sua obra. Como nos posicionamos como artistas, como cidadãos, como seres humanos em relação à sua mundividência e convicções? Eis a pergunta a que “Provavelmente Saramago” tenta (ensaia) responder.
“No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas seletiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da puta da realidade”, diria Saramago. E acrescenta: “Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso.” Ou ator, dizemos nós.
Através do exemplo de Saramago, o espetáculo associa o ato de criação artística à ideia de trabalho e de resiliência – a consolidação do seu percurso como romancista começará, pouco ortodoxamente, depois dos sessenta anos de vida. Em contraponto, o espetáculo respinga e valoriza aspectos da sua anterior “extraordinária biografia ordinária”. Outro tema forte convocado será o da incompletude e intimidade – Saramago será tanto maior quanto menor for a tentação de fixar-lhe um retrato cristalizado; possa, cada leitor, por simpatia ou contraste, encontrar o seu Saramago.
Apresentação – Ponto de Partida
“Provavelmente Saramago” resulta do encontro de dois criadores teatrais da lusofonia – Paulo Campos dos Reis (diretor português) e Vinícius Piedade (intérprete brasileiro) – em torno da biografia e obra de um dos maiores nomes da literatura mundial, e um dos principais baluartes literários da lusofonia.
Os artistas que se conheceram e se reencontraram em diferentes Festivais de Teatro lusófonos (em Angola, em Cabo Verde e em Portugal), logo perceberam que a conexão artística viria através da obra do escritor referência para ambos. E desse anseio teatral/literário nasceu a ideia da co-produção. Através de um permanente jogo de espelhos com a bibliografia selecionada de Saramago, Paulo e Vinícius, que também assinam o roteiro/texto/dramaturgia, constroem um espetáculo teatral que poderia definir-se como “o modo como um leitor dialoga pessoal e intimamente com uma persona e obra literárias”.
Neste caso, porém, o leitor é também um ator em monólogo que, na sua oficina de voz, corpo e signos, transmuta as suas impressões num objeto especificamente teatral. O resultado é, ao mesmo tempo, uma celebração da obra de Saramago e uma confirmação – se fosse preciso reconfirmar os argumentos da atribuição do prêmio Nobel ao escritor… – do profundo impacto que a sua vida e obra causam na experiência de quem o descobre.
Hiper-Saramago-Provável
Em “Provavelmente Saramago”, o ator interpela o público e fala da sua experiência profissional e do seu desejo irresistível de compor um espetáculo sobre a figura de Saramago e sua obra. A tarefa, no entanto, resulta difícil de concretizar; quanto mais fundo pesquisa e lê, mais pontos de contato encontra entre a sua biografia e os temas que o “dossiê Saramago” convoca. Em tudo, a sua mundividência se identifica com a de Saramago e a todo o instante se apropria de Saramago para falar de si mesmo.
Com o público, o ator vai partilhando as suas entusiásticas e diversas possibilidades de mise-en-scène – ensaiando, por exemplo, adaptações de excertos dos romances de Saramago – sem que, no entanto, se contente com o resultado de nenhuma. Parafraseia a estafada injunção de Beckett – errar melhor – para justificar a sua permanente deriva, apontando, também, para ideia de que Saramago é tão prolixo que qualquer retrato que se lhe queira fixar nunca será senão pessoal e intransmissível; será sempre, apenas, um “retrato provável”.
Sobre José Saramago
José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de novembro de 1922 — Tías, Lanzarote, 18 de junho de 2010) foi um escritor português. Galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões,[2] o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
[3] A 24 de Agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e a 3 de Dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem, uma honra geralmente reservada apenas a Chefes de Estado.[4] A título póstumo, em 2021, no âmbito da abertura oficial das comemorações do centenário do seu nascimento, foi condecorado com o grau de Grande-Colar da Ordem de Camões por “serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas”,[5] o primeiro membro titular desta ordem honorífica recém-instituída.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro (filme) e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em coprodução com o Brasil e Espanha. Também foi adaptado para o cinema o livro O Homem Duplicado, no filme de 2014 dirigido por Denis Villeneuve e estrelado por Jake Gyllenhaal.
O Memorial do Convento foi adaptado num ópera de Azio Corghi, Blimunda, criada na Scala de Milão em 1990. Nasceu na Golegã, Azinhaga, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi diretor-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A 29 de Junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente.[6] Em 2012 a Fundação José Saramago abre as suas portas ao público na Casa dos Bicos em Lisboa, presidida pela sua esposa Pilar del Río.
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Texto: Paulo Campos dos Reis e Vinícius Piedade
Direção: Paulo Campos dos Reis
Interpretação: Vinícius Piedade
Iluminação: Paulo Campos dos Reis
Figurino: Piedad (Ana Maria Piedade)
Fotografia: Danilo Ferrara
Vídeo: Nara Ferriani
Design gráfico: Pedro Velho
Operação de som e luz: Márcio Baptista
Direção de Produção: Ricardo Soares (Portugal) Vinícius Piedade (Brasil)
Co-produção: Vinícius Piedade (Brasil) e Musgo Produção Cultural (Portugal)
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto (Márcia Marques)
SERVIÇO
“Provavelmente Saramago”: Um solo de Vinícius Piedade/ Direção: Paulo Campos dos Reis
Quando: dias 24 (19h) e 25 (18h) de fevereiro
Local: Palco Principal do Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525, Centro)
Entrada: gratuita com a retirada de ingressos feita, antecipadamente, somente pelo site Sympla TJA (https://site.bileto.sympla.com.br/theatrojosedealencar/)
Capacidade: 374 lugares (somente Plateia/térreo)
Duração: 65min
Classificação: 14 anos