Conheça Luly – jovem que protagoniza inclusão e a criatividade no mercado de trabalho.
No dia 21/03 é celebrado o Dia Mundial da Conscientização à Síndrome de Down. Luíza Suaide, mais conhecida como Luly, tem 26 anos e é apaixonada por artes como dança, teatro e música.
Em sua carreira, ela leva o cargo de “Assistente de Sorrisos”, compondo a equipe de marketing e atendimento ao cliente do Patties Burger, onde orgulhosamente é uma das funcionárias mais antigas. Atualmente, também faz palestras externas para outras empresas, representando a icônica hamburgueria paulistana. Seu bom humor, compromisso e disposição encantam os colegas à sua volta. Com uma agenda cheia, sua semana é repleta de atividades e responsabilidades.
Natural de São Paulo, filha de Patrícia Costa Silva e Rodrigo Suaide Silva, Luly conta como seus pais sempre incentivaram sua independência, e foi assim que ela se engajou na atuação, no ballet contemporâneo (uma Cia de Dança composta por bailarinos com e sem síndrome de down) e nas aulas de violão. Atualmente, Luly faz apresentações e ensaios no Instituto Movimentarte, uma Organização Não Governamental.
Sempre rodeada de amigos e boas companhias, Luly gosta de curtir shows e baladas aos finais de semana. De Legião Urbana à Lady Gaga, seu gosto musical é amplo. “Desde pequeno amo acompanhar as apresentações de dança e teatro da minha irmã, que são onde ela desde sempre mostra sua criatividade e habilidade. Sua veia artística faz com que ela tenha muita facilidade em se comunicar e cativar todos que estão perto. Amamos ver filmes e ouvir músicas juntos”, conta Pedro Suaide, seu irmão, com quem Luly sempre teve uma relação próxima e um carinho especial.
Patrícia Costa, mãe de Luly, relata como trabalhou desde cedo a independência da filha: “Quando a Luly nasceu, um ano e pouco depois do irmão, eu e meu marido decidimos que criaríamos os dois da mesma forma, com as mesmas oportunidades e obrigações – o que um pudesse fazer o outro também poderia – obviamente guardadas as devidas necessidades de cada um”.
Mercado de trabalho
Amada pelos funcionários e querida pelos clientes, Luly retribui o carinho do ambiente agradável em suas palavras. Para ela, a síndrome de down não deve ser vista com uma perspectiva negativa ou limitante, e ela nunca impediu Luly de trabalhar ou ser cobrada na mesma medida que outros funcionários. Luiza parafraseia uma de suas frases favoritas para descrever sua posição ativa na empresa: “diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar pra dançar”.
Uma de suas principais responsabilidades é criar e gravar conteúdos para as redes sociais da loja. A identidade disruptiva do restaurante permite que Luly coloque em prática diversas ideias criativas. Henrique Azeredo, fundador do Patties, explica sobre a dinâmica de convivência desde a contratação de Luly: “A grande verdade é que aprendemos com as diferenças e não com as igualdades. A Luiza traz uma visão totalmente diferente de tudo e no final do dia, a presença dela muda para muito melhor a dinâmica do escritório. Ela ensina muito mais a gente do que ensinamos ela”.
“Trabalhar no Patties é uma delícia! Eu amo! Tenho muitas oportunidades, aprendo coisas novas, dou ideias, faço pesquisas, apresentações e também vídeos para as redes sociais”, conta Luly. Como funcionária mais antiga da rede, hoje ela assume novos desafios, como participar de reuniões de brainstorm, é responsável por responder e acionar colaboradores e auxiliar na interação nas mensagens com clientes.
“Queria ver mais gente como eu trabalhando nos lugares”
Em seu emprego anterior, Luly conta que era estagiária em um petshop perto de casa, mas não foi efetivada. Apesar de estar satisfeita em sua nova posição, Luíza compartilha como o preconceito ainda é forte na sociedade, e dá luz ao tema da inclusão ativa de Pessoas Com Deficiência no mercado de trabalho: “Acho que tem poucas pessoas com síndrome de down trabalhando. Eu gostaria que todos os meus amigos pudessem ter um emprego legal como o meu. Tenho amigos (com síndrome de down) que não conseguiram trabalhar e fico triste, porque eles se mostram dispostos e competentes, mas ninguém quer dar o trabalho para eles. Queria ver mais gente como eu trabalhando nos lugares, porque ainda tem muita gente que fica olhando estranho pra gente”.
Em janeiro de 2024, um levantamento elaborado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base em informações do eSocial, mostra que o país tem 545.940 mil pessoas com deficiência e reabilitados do INSS inseridos no mercado formal de trabalho e que 93% destes trabalhadores estão em empresas com mais de 100 empregados.
A Lei nº 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas, determina que empresas com 100 a 200 trabalhadores precisam ter 2% do seu quadro funcional de pessoas com deficiência.
Para as mães de PCDs, Patrícia deixa um conselho: “Confiem no potencial dos seus filhos – pode estar escondidinho, mas está lá – e também para não se deixarem levar pelo ‘rótulo’ da deficiência – isso não define quem essa pessoa vai ser ou onde ela vai chegar! É essencial respeitar o tempo delas e nunca subestimar suas capacidades e habilidades”.