Estabelecida em 1906, na região do antigo porto de Fortaleza, comunidade circunvizinha ao centro cultural, completou 118 anos no último domingo (26).
No último domingo (26), o Poço da Draga completou 118 anos de existência. Em 1906, foi inaugurada a Ponte Metálica e iniciada a ocupação da área por pescadores, portuários e migrantes do interior que fugiam da seca em busca de melhores condições de vida, por isso, a data é considerada pelos seus moradores como o marco de fundação do núcleo habitacional. Há 25 anos atuando nas proximidades da comunidade, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), complexo cultural da Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece) ligados à Secult Ceará, gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), celebra a história de luta e resistência do local.
Marcada por contradições sociais, a comunidade Poço da Draga, que, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reúne mais de 505 famílias, somando mais de 2400 moradores, viu seu contexto de vulnerabilidade social ainda mais fragilizado depois da pandemia do coronavírus. No ano de 2020, impedida de realizar sua tradicional festa de comemoração, a comunidade contou uma live solidária promovida pelo Dragão do Mar, a fim de angariar doações de alimentos, itens de vestuário e higiene pessoal. Para além das dificuldades, a comunidade segue resistindo e mostrando todo o seu potencial de superação. Em meio a desafios e avanços, já há muito o que celebrar.
Desde março de 2023, quando foi criado o Núcleo de Articulação Territorial (NAT) do Centro Dragão do Mar, a fim de implementar políticas de gestão territorializada, a histórica relação com o Poço da Draga vem se estreitando e os vínculos com a população vem sendo fortalecidos, a partir de ações em parceria com a comunidade, desde a participação em atividades culturais e educativas voltadas para os moradores à integração de artistas e autônomos de serviço ambulante à programação. No último ano, o NAT realizou 41 ações socioculturais que alcançaram mais de 450 pessoas. Além disso, 5% dos funcionários do CDMAC são moradores da comunidade, em diversos cargos, tais como coordenação, recepção, técnica e produção.
Cultura: um direito de todos
Ao longos dos seus 25 anos, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura ofertou inúmeras ações de visitação da comunidade ao Planetário Rubens de Azevedo, Cinema do Dragão, Teatro Dragão do Mar, Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE) e Museu da Cultura Cearense (MCC). Em maio de 2023, por exemplo, a sala experimental do Núcleo Educativo MAC-CE, sediou a oficina gratuita de Educação Ambiental, ministrada pela artista Ivoneide Gois, liderança do Poço que orientou a confecção de embalagens com o uso de materiais recicláveis.
Compreendendo a cidadania cultural como caminho de acesso e garantia dos Direitos Humanos, o NAT iniciou, em março deste ano, um cadastro de moradores das comunidades Poço da Draga, Graviola e Moura Brasil, para acesso gratuito a programações realizadas pelo Dragão, com reserva de até 10% dos acessos para os cadastrados. Com cerca de 187 moradores já cadastrados, a Política de Gratuidade para Comunidades Vizinhas, pensada como uma forma de viabilizar não apenas a visitação, mas uma política de permanência nas ações, ampliando a regularidade do acesso, entrará em vigor a partir de junho deste ano.
Poço de talentos
No último ano, destacados talentos artísticos compuseram a programação do Dragão, artistas e coletivos como Junior Panthera & Samba Brasil, Sâmia Barbosa, Banda Dragaxé, DJ Bugzinha e Iolanda do Nascimento, poetisa e uma das guardiãs da memória da comunidade Poço da Draga. O Brincando e Pintando no Dragão, programa que há 21 anos desenvolve atividades lúdicas, entre brincadeiras, jogos e apresentações artísticas para o público infantil, já contou com 275 jovens da comunidade atuando como auxiliares lúdicos e estagiários de Ensino Médio, iniciativa fruto de parceria com o Poço da Draga e escolas de Ensino Médio da vizinhança.
Também nas cinco edições já realizadas do projeto Escola Criativa, 60 jovens do Poço da Draga atuaram nas equipes de receptivo e instrução escolar, e outros como educadores museais no MCC e no MAC-CE e educadores bilíngues volantes.
A comunidade também foi protagonista de exposições. O artista plástico suíço Daniel Maillet, radicado em Fortaleza, lançou no MAC-CE “Rabiscos de um Olhar”, onde registrou moradores do Poço da Draga com seus traços coloridos e esculturas de argila em tamanho real.
Em 2021, “Poço 115: rastros na cidade”, de Felipe Camilo e Álvaro Graça Júnior, inicialmente em exposição virtual e depois em cartaz no MAC-CE, abordou a preservação da memória e a resistência à invisibilização, exibindo acervos fotográficos pessoais dos moradores, memórias que versavam sobre a relação da comunidade com a praia, o futebol amador, a infância e a velhice e sobre as lutas das populações litorâneas pela permanência em seu território.
Em 2023, o Centro Dragão do Mar lançou “Poço de Operários 117 Anos”, mostra celebrativa que destacou, em painel de lambes pelas ruas da comunidade, trabalhadores de diferentes ocupações, mostra que foi acompanhada de percurso na comunidade guiado pelo geógrafo e morador Sérgio Rocha. Também como parte da programação comemorativa do aniversário do ano passado, o Núcleo Educativo do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE), por meio do programa Leituras Coletivas, realizou uma conversa aberta sobre o acervo de fotografias da comunidade, com os artistas Felipe Camilo e Álvaro Graça.
Incentivo ao empreendedorismo
Em maio de 2023, empreendedores locais da Feirinha do Poço, a maioria mulheres, participaram da Varandinha do MAC-CE, onde puderam expor e comercializar seus produtos criativos. As ações foram fruto de parceria com a ONG Velaumar e com os coletivos Feirinha do Poço, Raiz do Poço e Coletivo Fundo da Caixa. A Feirinha do Poço também compôs a programação dos 24 anos do Centro Dragão do Mar. Também há empreendedores do local no Fuxico no Dragão, tradicional feirinha de domingo.
Além de feirinhas criativas, os eventos do Dragão do Mar contam com vendedores ambulantes da comunidade cadastrados, como a “Dona Eliete” e o senhor Edson, o “Belchior do Dragão”, personagens já conhecidos pelos frequentadores do centro cultural.
Com os votos de prosperidade ao Poço da Draga, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura celebra a longa história de memória e afeto construída e reafirma o seu compromisso com essa sólida parceria.